Cininha de Paula, ex-Globo, lança livro e analisa humor: 'Stand-up não é essência'
Cininha de Paula fala sobre livro, carreira e humor na TV

Aos 66 anos, a diretora e roteirista Cininha de Paula, irmã do lendário Chico Anysio, apresenta ao público sua mais recente obra: o livro 'Caminhos do Ator – Do Palco à Câmera'. A publicação, que reúne décadas de experiência nos palcos, sets de TV e cinema, surge como um guia para artistas. Em uma conversa franca com a coluna GENTE, ela não apenas detalha a motivação por trás do projeto, mas também compartilha reflexões contundentes sobre o humor contemporâneo, sua relação com a TV Globo e os desafios da representatividade na teledramaturgia brasileira.

Do palco às páginas: a gênese de um guia para atores

A decisão de escrever o livro, segundo Cininha, foi amadurecendo ao longo do tempo. Há dois anos, ao ministrar um curso online, ela percebeu uma carência no mercado. "Cheguei à conclusão de que as pessoas precisavam de um guia, de algo que elas se sentissem acolhidas e com compreensão para continuar no trajeto do caminho do ator, que é árduo e difícil", explica a diretora. A obra é, portanto, um compêndio de aprendizados técnicos e reflexões sobre dedicação e reinvenção, fruto de quem passou anos formando talentos em diversas frentes.

Sua trajetória é marcada por uma vocação clara. "Quis ser atriz para ser diretora. A minha intenção sempre foi dirigir", afirma. Esse foco a levou a comandar alguns dos maiores sucessos do humor e do drama na televisão brasileira. Na TV Globo, onde construiu 30 anos de carreira, dirigiu programas icônicos como Escolinha do Professor Raimundo, Zorra Total, A Grande Família, Sítio do Picapau Amarelo e TV Pirata. Na Record, esteve à frente de novelas como Bela, a Feia e Rebelde. No cinema, dirigiu os longas Crô – O Filme (2013) e Crô em Família (2018).

Um olhar crítico sobre o humor na TV atual

Questionada sobre como enxerga o humor na televisão hoje, Cininha de Paula foi direta: "Eu quase não vejo nada". Ela faz uma distinção profunda entre o que considera a essência do humor e o formato que predomina atualmente. "Stand-up é um tipo de humor que não é o humor, digamos assim, do cotidiano, da crítica, de nada", analisa. Para ela, o stand-up se baseia em fatos vividos transformados em piada, sendo uma vertente diferente.

"É diferente do humor crítico, do humor de denúncia, do humor social, do humor político. Stand-up é um gênero do humor, mas não é o humor na sua essência. Humor é poesia", defende a diretora, que cresceu em uma família profundamente ligada à comédia. Ela sente falta dos formatos de sitcom e dos programas de humor que permeavam o horário nobre. "Com o humor, a gente consegue dar leveza para dizer o que é mais duro", reflete, citando sucessos como Tapas e Beijos, Sai de Baixo, Toma Lá Dá Cá e A Praça é Nossa.

Para Cininha, o bom humor nunca fica datado. "Se eu colocar agora para você rever TV Pirata, todo mundo vai rir das mesmas coisas, apesar de ser uma crítica do que era naquela época", garante.

Relação com a Globo, diversidade e futuro

Sobre sua saída da TV Globo, a diretora mantém um relacionamento amistoso. "Super cheia de amigos. Eles me chamaram algumas vezes para voltar e infelizmente não pude, por motivos outros", revela, ressaltando os 30 anos que dedicou à emissora. Quando o assunto é representatividade, Cininha é enfática. "Temos muito que andar. Somos um país de 60% de pretos. Por que não tem preto em tudo?", questiona.

Ela elogia o trabalho do diretor Miguel Falabella, com quem colaborou, por sempre ter dado espaço para artistas negros em seus elencos de forma mais igualitária. "As coisas estão caminhando. Tudo a passos lentos. Mas caminhando", avalia, com um misto de esperança e crítica.

Quanto ao futuro, Cininha de Paula não carrega mágoas e se considera uma pessoa sortuda por ter trabalhado com grandes nomes. Seus desejos são concretos: "Um filme do Toma Lá Dá Cá, um filme do Pé na Cova". E, com a sabedoria de quem conhece os meandros da produção, conclui: "A gente precisa de dinheiro, um momento, texto e elenco certo, para diminuir possíveis erros, que vão existir. Ninguém é perfeito". Seu novo livro é mais um capítulo dessa jornada intensa e criativa, agora destinado a iluminar o caminho das novas gerações de atores.