A atriz Camila Morgado está de volta aos palcos para viver um dos clássicos mais ácidos do teatro brasileiro. Ela protagoniza a montagem de "A Falecida", obra-prima de Nelson Rodrigues, que terá uma temporada especial na Caixa Cultural Belém, no Pará.
Temporada e detalhes da apresentação
As apresentações acontecem de 2 a 7 de dezembro de 2025, sempre com início às 19h. Os ingressos custam R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada), com direito aos clientes CAIXA e aos casos previstos em lei. A peça tem classificação indicativa para maiores de 16 anos e uma duração total de 90 minutos.
O espetáculo ocorrerá no Teatro da Caixa Cultural Belém, localizado na Avenida Marechal Hermes, no Armazém 6 do Reduto (Porto Futuro II). A acessibilidade para pessoas com deficiência está garantida, e haverá uma sessão com tradução em Libras no dia 4 de dezembro.
A trama atemporal de Zulmira
Escrita em 1953, a peça integra a série de "tragédias cariocas" do autor e celebrou 70 anos em 2023. A história gira em torno de Zulmira, uma personagem doente e profundamente frustrada, interpretada por Camila Morgado. Seu maior desejo, próximo da morte, é ter um enterro de luxo no valor exorbitante de 35 mil cruzeiros – algo muito acima da realidade da época.
O objetivo dela é provar para a vizinhança, especialmente para a prima Glorinha, que sua família tem posição social. Ela pede ao marido desempregado, Tuninho, que consiga o dinheiro com o milionário Pimentel. Após a morte de Zulmira, Tuninho descobre um segredo: sua esposa e Pimentel eram amantes.
A partir daí, ele chantageia o empresário, obtém uma pequena fortuna, mas trai o último desejo da falecida. Em vez do funeral pomposo, realiza um enterro simples e aposta o dinheiro restante em um jogo de futebol. A narrativa rodriguiana expõe, de forma crua, temas como culpa, hipocrisia, fanatismo religioso e a busca vã por redenção através da morte.
Elenco e concepção artística
Sob a direção de Sergio Módena, que também idealizou esta nova encenação, o elenco conta com nomes como Claudio Gabriel, Stela Freitas, Gustavo Wabner, Alcemar Vieira (com Alex Nader alternando no papel), o próprio diretor Sergio Módena e Gustavo Barbalho.
A direção optou por uma abordagem atemporal, sem se prender à reconstituição dos anos 1950. O cenário, criado por André Cortez, apresenta um grande mausoléu como símbolo central da ostentação social. Os figurinos de Marcelo Olinto evocam diferentes períodos, enquanto a trilha sonora assinada por Marcelo H mistura referências do sagrado e do profano, acompanhando a jornada da protagonista.
A montagem reafirma a genialidade de Nelson Rodrigues, considerado um dos maiores dramaturgos brasileiros do século XX. Jornalista, cronista e romancista, Rodrigues usou sua experiência na cobertura policial para criar personagens que rasgam o véu das aparências, expondo as contradições, a violência e a falsa moralidade da sociedade.
