Viaduto do Chá, com 130 anos, passa por reforma que gera debate sobre preservação
Reforma do Viaduto do Chá gera debate sobre patrimônio

O Viaduto do Chá, marco histórico de São Paulo com mais de 130 anos, está no centro de um debate que mistura necessidade de manutenção e preservação da memória urbana. A Prefeitura anunciou uma ampla reforma estrutural no local, a primeira de sua magnitude, que inclui intervenções para conter infiltrações e revitalizar o entorno do Vale do Anhangabaú.

Obra Necessária ou Perda de Identidade?

Inaugurado em 1892, o viaduto foi o primeiro construído na capital paulista e simbolizou a conexão entre a "Cidade Velha" e a "Cidade Nova". Sua importância é destacada pelo historiador e arquiteto Lincoln, morador da região. "Esse viaduto liga duas cidades. Se ele para, a cidade para. Não há outra forma de fazer essa travessia", explica.

Apesar da necessidade apontada pelo poder público, parte das intervenções gera controvérsia. O ponto mais sensível é a substituição do piso de pedras portuguesas por granito, medida já aprovada pelos órgãos de patrimônio. Para Lincoln, a mudança é questionável. "As pedras portuguesas têm um valor afetivo. Uma geração inteira reconhece a cidade por esse traçado", avalia, ressaltando a importância de uma manutenção adequada do material original.

Além do Piso: O Que Mais Vai Mudar?

A reforma não se limita ao viaduto. O projeto é abrangente e inclui:

  • Restauração da Praça do Patriarca: O piso de mosaico de pedras portuguesas será recomposto para resgatar o desenho original.
  • Recuperação da marquise: Projetada pelo renomado arquiteto Paulo Mendes da Rocha há 23 anos, a estrutura será mantida e recuperada.
  • Intervenção na galeria Prestes Maia: Atualmente interditada, o espaço sob a marquise ganhará uma cerca retrátil para fechamento noturno e, no futuro, deve se tornar um espaço cultural e de exposições.
  • Novas instalações: A obra prevê a reforma de calçadas, do revestimento externo, a instalação de um ponto de embarque e desembarque, um bonde histórico como central de informações turísticas e uma nova base da Guarda Civil Metropolitana (GCM).

Impacto no Cotidiano e no Comércio Local

As mudanças terão um impacto direto na vida de quem depende do movimento no local. Derneval, que mantém uma banca de jornal em frente ao Teatro Municipal há 30 anos, recebeu notificação para deixar o ponto. "Aqui eu formei um ambiente, tenho minha clientela. Esse lugar é minha referência. Saio de casa e venho pra cá, só volto pra dormir", desabafa o comerciante, ilustrando o lado humano afetado pela modernização.

A obra, portanto, coloca em pauta um dilema comum em grandes cidades: como equilibrar o progresso e a infraestrutura necessária com a preservação da identidade histórica e dos laços afetivos da população com a paisagem urbana. O Viaduto do Chá, testemunha silenciosa da transformação de São Paulo, agora é palco de mais um capítulo dessa complexa relação.