Conflito sobre futuro do incinerador Vergueiro divide opiniões em São Paulo
Um impasse urbanístico toma conta da Avenida Ricardo Jafet, na Zona Sul de São Paulo. De um lado, a Prefeitura Municipal quer demolir o antigo incinerador Vergueiro para construir a nova sede da Subprefeitura do Ipiranga. Do outro, moradores e coletivos culturais defendem a preservação do espaço histórico e sua transformação em um centro cultural.
O plano da Prefeitura e a necessidade de mudança
A Subprefeitura do Ipiranga atualmente funciona em um imóvel alugado na Rua Lino Coutinho, mas precisa se mudar porque o proprietário - uma ordem religiosa - solicitou o prédio de volta para construir uma escola no local. Em setembro, a Prefeitura lançou um edital para erguer uma nova sede em um terreno que já abriga uma unidade do Descomplica e um posto da Guarda Civil Metropolitana.
O projeto prevê um prédio de seis andares com auditório, gabinetes, alojamento da GCM Ambiental e áreas livres para outras iniciativas municipais. Para viabilizar a construção, no entanto, o edital estabelece a demolição completa do antigo incinerador Vergueiro - uma estrutura de tijolos aparentes com uma chaminé que se tornou referência visual na região.
A Prefeitura afirmou, em nota, que pretende manter apenas a chaminé do antigo equipamento. O projeto está em fase de licitação, sem previsão para início das obras.
História do local e apelo da comunidade
Construído nos anos 1960, o incinerador Vergueiro funcionou por quatro décadas, até 2002, quando foi fechado por questões ambientais. Desde então, o prédio ficou abandonado e passou a sofrer com vandalismo, furtos e criminalidade.
"À noite não dá para passar aí, já teve gente escondida, droga, até tentativa de estupro", relatou uma moradora da região.
Apesar dos problemas atuais, a população vê potencial no espaço. Há dois anos, um grupo chegou a ocupá-lo temporariamente para atividades culturais, como capoeira, apresentações e brincadeiras para crianças. Vizinhos defendem que o prédio seja preservado e transformado em área de lazer e atividades culturais, seguindo o exemplo do que aconteceu no antigo incinerador de Pinheiros, que deu origem à Praça Victor Civita.
Proposta alternativa: museu do meio ambiente
O coletivo cultural que atua na região propõe que o local se transforme em um museu do meio ambiente. "Acreditamos que esse espaço precisa ser preservado como memória e usado para atividades culturais. Que fale sobre o meio ambiente e traga atividades culturais", defende Liana Peres de Oliveira, presidente da Associação Usina Cultural.
O coletivo também pediu ao Conpresp - órgão municipal de preservação do patrimônio histórico - o tombamento do edifício. Até o momento da publicação desta reportagem, o conselho não havia se manifestado sobre o pedido.
Questão ambiental pendente
Desde 2023, a CETESB cobra da Prefeitura um estudo do solo para avaliar eventual contaminação na área. O município ainda não entregou o laudo e já recebeu multa de R$ 24 mil, da qual recorreu.
"A resposta não é derrubar, mas despoluir. É possível recuperar o solo e ocupar o espaço de outra forma", completa Liana Peres de Oliveira.
Posicionamento oficial
A Subprefeitura do Ipiranga informou, em nota, que não há pedido de tombamento em andamento e reafirmou que o plano continua sendo demolir o antigo prédio para criar o estacionamento da nova sede, preservando apenas a chaminé histórica.
Enquanto isso, a disputa pelo futuro deste marco arquitetônico paulistano continua, representando o embate entre desenvolvimento administrativo e preservação da memória urbana.