O Arquivo Público do Distrito Federal divulgou, na última terça-feira (2), um conjunto de fotografias históricas e inéditas que capturam momentos da construção de edifícios emblemáticos de Brasília, projetados pelo arquiteto Stellio Rodolpho Bastos Seabra. As imagens, que permaneciam em acervo privado, foram doadas pela viúva do profissional, Nina Seabra, e entregues pelo sociólogo e arquiteto Fernando Campos, amigo da família.
Quem foi o "arquiteto da rainha" de Brasília
Nascido no Rio de Janeiro em 1932, Stellio Seabra chegou à nova capital do país em 1961, pouco após sua inauguração. Ele veio a convite do Banco do Brasil para atuar como arquiteto da instituição, com a missão de projetar e supervisionar obras que seriam residências para os funcionários do banco transferidos do Rio para Brasília.
De acordo com o historiador Elias Manoel da Silva, do Arquivo Público do DF, Seabra desfrutou de uma liberdade criativa rara para a época. "Diferente de obras que eram marcadas por certa escassez financeira ou rigidez burocrática dos projetos, o Stellio Seabra teve total liberdade de prancheta", explicou o historiador durante a entrega do material.
Entre os projetos residenciais de sua autoria está o Bloco B da Superquadra Sul 303 (SQS 303), endereço que se tornou histórico por ter abrigado a família do ícone do rock brasileiro, Renato Russo. Stellio Seabra faleceu em 2023, aos 90 anos, em Natal (RN), onde residia com a esposa.
A obra-prima e a visita real
Considerada sua obra-prima pelo historiador Elias Silva, o Jardim de Infância da Superquadra Sul 308 ganhou destaque internacional em 1968. Naquele ano, o local recebeu a ilustre visita da rainha Elizabeth II do Reino Unido e do príncipe Philip, durante sua vinda ao Brasil.
O episódio rendeu a Stellio Seabra o apelido carinhoso de "arquiteto da rainha". A escolha da quadra 308 para a visita não foi por acaso. Elias Silva explica que ela era considerada uma "quadra modelo", uma verdadeira vitrine da nova capital, que ainda era um grande canteiro de obras. Era uma das poucas áreas completamente finalizadas e prontas para receber visitantes de alto escalão.
Fernando Campos revelou ao Arquivo Público um detalhe pessoal e tocante sobre o projeto: como Stellio e Nina Seabra não tiveram filhos, o arquiteto encarou o desenho do jardim de infância como uma "devolutiva existencial, projetando para os filhos dos outros".
O legado arquitetônico revelado pelas fotos
As fotografias agora disponíveis ao público registram canteiros de obras e a evolução das construções idealizadas por Seabra. Elas mostram a materialização de um conceito arquitetônico que fugia do padrão da época. O Jardim de Infância da 308 Sul, por exemplo, apresentava um espelho d'água e azulejos coloridos, criando uma atmosfera lúdica e diferenciada para as crianças.
A doação desse acervo visual é um presente para a memória de Brasília. Ela não apenas homenageia um profissional talentoso, que contribuiu para moldar a paisagem residencial e educacional da capital, mas também preserva detalhes do processo construtivo de uma era de grande efervescência e esperança na cidade.
As imagens fortalecem o entendimento de como Brasília, mais do que os monumentos do Plano Piloto, foi construída por meio de projetos comunitários e visionários como os de Stellio Seabra, que pensou não apenas em estruturas, mas em espaços de vida e convivência para os pioneiros da nova capital.
