Flagrante incomum em sítio de Pedreira surpreende observadores
Um momento especial da vida selvagem brasileira foi capturado em imagens no sítio da família Peron, localizado no município de Pedreira, no interior de São Paulo. O representante comercial Leo Eduardo Zonzini registrou a cena incomum de uma fêmea de veado-catingueiro (Subulo gouazoubira) acompanhada de seu filhote.
Segundo Zonzini, que frequenta o local com a família, o animal já havia sido avistado anteriormente por seu irmão e cunhado, mas esta foi a primeira vez que observaram a mãe com sua cria. "Eles não perceberam minha presença, então consegui filmar por mais tempo", relatou o autor do registro, explicando que o vento estava contra sua direção, o que permitiu a aproximação sem alertar os animais.
Características e comportamento da espécie
O professor José Maurício Barbanti Duarte, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Conservação de Cervídeos da Unesp, esclarece que o veado-catingueiro é uma espécie solitária e territorialista. "Você nunca verá um grupo destes animais. O máximo que se costuma observar é uma mãe com filhote ou um macho acompanhado de uma fêmea", afirma o especialista.
Uma característica marcante da espécie é sua grande plasticidade ecológica, que lhe permite adaptar-se a diferentes ambientes sem perder suas características naturais. Esta capacidade explica sua aparição em áreas próximas a humanos, especialmente quando cercadas por fragmentos de vegetação nativa.
Estado de conservação e distribuição geográfica
De acordo com o professor Márcio Leite de Oliveira, do curso de Ciências Biológicas da Universidade de Araraquara, o veado-catingueiro não está ameaçado de extinção e é comum nas regiões próximas ao local do registro. A caça, no entanto, permanece como sua principal ameaça.
Por ser resistente a áreas degradadas, a espécie é classificada pelo ICMBio como "pouco preocupante" em relação ao risco de extinção. O cervídeo possui forte presença em biomas como Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal, e vem ampliando sua ocorrência em áreas alteradas da Mata Atlântica.
A distribuição global do veado-catingueiro estende-se do leste da Cordilheira dos Andes, passando ao sul da Amazônia, até o norte da Argentina. Trata-se do cervídeo mais abundante do Brasil, presente em todos os biomas nacionais.
Importância dos registros amadores
O professor Márcio destaca que registros feitos por pessoas comuns tornaram-se cada vez mais frequentes. "Com os smartphones, essas imagens se multiplicaram. Além disso, atividades como ciclismo e caminhadas em áreas rurais aumentam as chances de observação", afirma o especialista.
Os veados-catingueiros são animais diurnos que se alimentam de frutos, flores e folhas. Vivem sozinhos, formando pequenos grupos apenas em períodos de escassez de alimento. As fêmeas têm apenas um filhote por vez, que permanece com a mãe até cerca de oito meses ou até o nascimento da próxima cria.
Machos e fêmeas marcam território com urina, fezes e pelo cheiro deixado ao esfregar o corpo em objetos. Também utilizam mordidas na casca de árvores como marca visual, comportamento típico desta espécie discreta e naturalmente arisca.