Rinoceronte-branco de 2 toneladas chega a SP para projeto pioneiro de reprodução
Rinoceronte-branco chega a zoológico de Itatiba para reprodução

O Zooparque Itatiba, localizado no interior de São Paulo, acaba de receber um novo morador de peso, em todos os sentidos. Trata-se de Atanásio, um rinoceronte-branco-do-sul (Ceratotherium simum simum) de cinco anos, que desembarcou no Brasil na primeira semana de dezembro com uma missão crucial: tentar a primeira reprodução da espécie em território brasileiro.

Uma viagem transcontinental para salvar uma espécie

Nascido no Zoológico Buin Zoo, no Chile, o macho de quase duas toneladas foi transferido após um processo burocrático que levou cerca de dois anos. A operação logística foi complexa e cuidadosamente planejada para garantir o bem-estar do animal. Atanásio viajou a bordo de um avião cargueiro adaptado.

Maria Fernanda Gondim, médica veterinária e responsável técnica pela instituição, detalhou os preparativos. O condicionamento para a viagem começou muito antes do embarque. Uma caixa de transporte foi colocada ao lado do recinto original do animal no Chile, permitindo que ele se acostumasse a entrar, permanecer e até se alimentar dentro dela.

"Isso foi fundamental para que, no dia do transporte, ele não sentisse estresse. Ele entrou tranquilamente na caixa, permaneceu calmo durante toda a viagem, dormindo e deitado, sem apresentar sinais de agitação", explicou Gondim.

Um marco para a conservação no Brasil

A chegada de Atanásio é um passo significativo para a conservação do rinoceronte-branco-do-sul, classificado como 'quase ameaçado' pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). O Zooparque Itatiba já abriga duas fêmeas da subespécie e vinha investindo em tentativas de inseminação artificial, que até agora não obtiveram sucesso.

"Chegamos a importar sêmen de rinoceronte branco da Áustria e realizamos inseminação artificial em uma das fêmeas, que chegou a ficar gestante, mas houve reabsorção do embrião durante a gestação", contou a veterinária. Com a chegada do macho, uma nova fase se inicia, com expectativas voltadas para a reprodução natural.

O desafio é grande. "Nunca houve registro de reprodução dessa espécie no Brasil, especialmente na região do Rio Negro. Essas fêmeas estão entrando em uma idade avançada para uma primeira reprodução, o que torna o desafio ainda maior", complementou Maria Fernanda. Com Atanásio, o Brasil passa a contar com oito indivíduos da espécie em seu território.

Os próximos passos e os desafios da reprodução

Nas próximas semanas, Atanásio passará por um período de adaptação em um recinto separado, de onde poderá avistar as fêmeas à distância. A aproximação será gradual e, posteriormente, ele será apresentado ao público.

A equipe do zoo está ciente das dificuldades. O rinoceronte-branco é considerado uma das espécies mais difíceis de se reproduzir em cativeiro. A gestação dura de 15 a 16 meses e nasce apenas um filhote por vez, com um longo intervalo entre os partos.

"Inicialmente, tentaremos a reprodução natural, mas, se preciso, recorreremos à coleta [de sêmen] e inseminação artificial. O objetivo é garantir a reprodução e, caso tenhamos filhotes, trabalhar em conjunto com outras instituições para o manejo populacional da espécie no país", finalizou a responsável técnica.

Por ser um animal de porte gigantesco, mas de comportamento dócil, Atanásio já está sendo condicionado para procedimentos que facilitem a coleta de sêmen, caso a inseminação artificial se faça necessária. A esperança é que essa jornada resulte em um nascimento histórico, fortalecendo os esforços para preservar este magnífico animal, que ainda sofre com ameaças como a caça e a perda de habitat em seu ambiente natural.