Drone captura 1º sauá albino do mundo em MG: descoberta rara na Mata Atlântica
Primeiro sauá albino do mundo é registrado em Minas Gerais

Uma descoberta extraordinária surpreendeu a comunidade científica brasileira. Pesquisadores do projeto Primatas Perdidos registraram, pela primeira vez no mundo, um sauá albino na natureza. O fato inédito ocorreu no Parque Estadual do Rio Doce (PERD), em Minas Gerais, durante um levantamento de população realizado com drones.

O encontro inesperado com uma raridade da natureza

A bióloga Vanessa Guimarães, uma das fundadoras do projeto, descreve o momento da descoberta. A equipe utilizava drones equipados com câmeras térmicas e coloridas para monitorar a fauna. "A câmera termal detectou o calor de alguns animais, e quando passamos para a câmera colorida, vimos um indivíduo completamente branco", relata. A princípio, a pesquisadora ficou confusa, questionando a qual espécie pertencia aquele animal. Foi apenas ao comparar com outros indivíduos próximos que a equipe percebeu tratar-se de um sauá com albinismo.

"Foi um choque. É como encontrar uma agulha no palheiro", compara Vanessa Guimarães. O registro é considerado histórico, pois não havia nenhum caso documentado de albinismo entre as 63 espécies da família à qual o sauá pertence. Primatas neotropicais, típicos da América Central e do Sul, raramente apresentam essa condição genética.

O significado e as preocupações por trás da descoberta

A aparição do sauá albino, embora fascinante, acende um sinal de alerta para os pesquisadores. O animal foi avistado na maior área contínua de Mata Atlântica de Minas Gerais, uma região que, apesar de protegida, sofre pressão do entorno. "O PERD é uma espécie de ilha verde cercada por áreas degradadas", explica a bióloga. Há mais de 150 anos, a expansão urbana, a monocultura e as atividades agroindustriais vêm fragmentando o habitat.

Esse isolamento pode estar na origem do albinismo. "Quando as populações ficam isoladas por causa do desmatamento ou da urbanização, a troca genética diminui. E isso pode gerar mutações e anomalias, como o albinismo", detalha Vanessa. A endogamia, ou reprodução entre parentes próximos, é uma consequência direta da falta de conectividade entre fragmentos florestais.

Além do isolamento, fatores externos como poluição atmosférica e o uso intensivo de agrotóxicos nas proximidades são hipóteses consideradas. "Estudos apontam que gases como dióxido de nitrogênio e dióxido de enxofre podem causar alterações na pigmentação", afirma a pesquisadora. Embora não seja possível confirmar a causa exata no caso do sauá, o contexto ambiental torna a hipótese plausível.

A vida discreta do sauá e sua importância ecológica

O sauá (Callicebus nigrifrons), também chamado de guigó, é um primata endêmico do Brasil, encontrado em remanescentes de Mata Atlântica de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Conhecidos por seus hábitos discretos e diurnos, eles são mais ouvidos do que vistos, graças a um característico dueto vocal entre macho e fêmea usado para marcar território.

A espécie possui um papel vital no equilíbrio da floresta. Por serem frugívoros (alimentam-se de frutas), atuam como importantes dispersores de sementes, contribuindo diretamente para a regeneração natural da Mata Atlântica. Atualmente, o sauá está classificado como "quase ameaçado de extenção" na lista do ICMBio, principalmente devido à perda e fragmentação do seu habitat.

Um detalhe observado durante o registro trouxe algum alívio aos pesquisadores: o sauá albino estava integrado a um grupo com outros dois indivíduos de coloração normal. "Ele parecia totalmente integrado ao grupo, o que é interessante, porque muitas vezes animais albinos são rejeitados ou atacados pelos seus pares. Nesse caso, o comportamento era tranquilo, natural", conta Guimarães. A descoberta, portanto, não é apenas um registro de uma raridade genética, mas um poderoso indicador da saúde frágil e do isolamento enfrentado pelas populações de fauna em um dos últimos refúgios da Mata Atlântica.