Uma onça-pintada que foi resgatada enquanto tentava atravessar o Rio Negro já percorreu mais de 1,2 quilômetro desde que foi devolvida à natureza. O felino passou por um processo de reabilitação que durou 40 dias antes de ser solto em uma área de floresta preservada no Amazonas.
Operação de resgate e reabilitação
O resgate aconteceu no dia 1º de outubro, quando passageiros de uma embarcação avistaram o animal nadando de forma exausta e desorientada no Rio Negro. Imediatamente, uma equipe técnica foi acionada para realizar o salvamento.
Após a captura, a onça foi levada para o Zoológico do Tropical, na Zona Oeste de Manaus, onde passou por exames veterinários detalhados. Os profissionais descobriram que o felino havia sido vítima de caçadores, apresentando mais de 30 estilhaços de chumbo no rosto, cabeça e pescoço, além de dentes quebrados e outros ferimentos visíveis.
O biólogo Nonato Amaral, diretor do zoológico, explicou que a análise das fezes do animal revelou informações cruciais: "A análise mostrou que era uma onça selvagem que estava se alimentando de animais de sítios e que foi vítima de armadilha de caça, pois encontramos larvas de moscas, restos de animais e pelos de cão".
Soltura estratégica e monitoramento
Quinze dias após a soltura, que ocorreu em uma área de mata preservada distante de comunidades ribeirinhas, o animal já demonstra adaptação ao habitat natural. Antes de ser libertada, a onça recebeu um colar de radiomonitoramento do Instituto Onça-Pintada (IOP) de Goiás, durante exames realizados em 4 de novembro de 2025.
O equipamento envia dados a cada hora, dependendo da cobertura de satélite e da densidade da floresta. Nonato Amaral comemora os primeiros sinais positivos: "O mais importante é abrir o ponto de monitoramento e não estar escrito lá: animal morto. Ele está vivo, está andando".
Significado histórico e desafios futuros
Este caso representa o primeiro registro na região de uma onça-pintada (panthera onca) resgatada, tratada e reintroduzida com sucesso em seu habitat natural, segundo informações do governo do estado.
A operação de reintrodução foi coordenada pela Secretaria Executiva de Proteção da Amazônia (Sepet-AM) e contou com uma equipe multidisciplinar incluindo médicos-veterinários, biólogos, pesquisadores e técnicos de imagem. Os profissionais chegaram a acampar na mata para garantir que a soltura ocorresse em condições seguras.
O biólogo e pesquisador em felinos, Rogério Fonseca, explicou os critérios ecológicos que orientaram a escolha do local: "A gente não pode fazer a translocação de um animal de uma bacia hidrográfica para outra. As forças naturais, rios, florestas, montanhas, delimitam o território".
A equipe não divulgou o ponto exato da soltura, mas confirmou que o felino foi devolvido à margem direita do Rio Negro, mesma região onde foi encontrado. Por ser um animal jovem, seu maior desafio agora será conquistar território e estabelecer sua área de vida na vastidão da floresta amazônica.