Guardião: O símbolo de resistência que desafia o tempo
Uma onça-pintada que vive no Zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs), em Manaus, está escrevendo uma história extraordinária de longevidade. Sabrina Rocha Guardião, como é chamada, possui mais de 20 anos de idade e se consolida como um dos felinos mais velhos mantidos em cativeiro em todo o Brasil.
Nascido em 2001 na cidade de Tabatinga, no interior do Amazonas, o animal chegou ao Cigs em 2007 e desde então se transformou em um verdadeiro símbolo de resistência e adaptação. De acordo com os registros do próprio zoológico, Guardião é atualmente o macho mais velho vivo sob cuidados humanos no país.
Reconhecimento e controvérsia
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no entanto, faz uma ressalva importante sobre esse reconhecimento. A instituição federal explica que o zoológico do Cigs não integra o Programa de Conservação ex situ, o que impede uma confirmação oficial sobre o status do animal.
Em nota oficial, o ICMBio afirmou: "Não temos informações precisas sobre os animais mantidos por esta instituição, mas sabemos informalmente sobre o macho que entrou no zoo jovem em 2001. Então, podemos dizer que estas são as duas onças mais velhas do Brasil de que temos informação".
Vida ativa na maturidade
Apesar da idade avançada, Guardião mantém uma rotina impressionantemente ativa. Em seu recinto, que conta com vegetação alta e áreas de sombra, ele continua caminhando, nadando e pulando entre plataformas diariamente.
A tenente Eliane Carvalho, que acompanha de perto o animal, comemora seu bom estado: "O score do Guardião, pela idade dele, está muito bom. Se jogarmos um pedaço de carne, ele vem atrás".
Devido à idade avançada, a equipe do zoológico evita sedar o animal para exames. As avaliações de saúde são realizadas à distância e incluem técnicas especiais como trilhas de cheiro com canela e mudanças estratégicas no local da alimentação, tudo para estimular seu movimento e cognição.
A rotina de Guardião inclui banhos de sol diários, até quatro refeições regulares e o uso constante das trilhas disponíveis em seu recinto. O felino vive sozinho desde 2020, quando seu companheiro castrado faleceu.
A bióloga responsável relembra: "Eles viveram juntos até 2020. O outro morreu e achávamos que ele fosse morrer em seguida, mas ele segue até hoje".
Um detalhe curioso sobre sua história é que Guardião nunca conviveu com uma fêmea de sua espécie e, por consequência, não deixou descendentes.
O segredo da longevidade
A tenente Eliane Carvalho explica por que onças-pintadas como Guardião conseguem viver tanto tempo em cativeiro. Na natureza, esses felinos raramente ultrapassam os 15 anos de idade devido a diversos fatores limitantes.
Os desafios naturais incluem disputas territoriais constantes, perdas dentárias progressivas, dificuldade para caçar com o avançar da idade e longos períodos sem acesso a alimento.
"No zoológico, devido ao tratamento e à inspeção periódica desses animais, eles duram mais. O histórico de onça-pintada mais velha no Brasil chegou a 30 anos, em zoológico", revela a tenente.
Guardião já superou com folga a expectativa natural de vida de sua espécie e continua sendo monitorado de perto pela equipe especializada. "Ele já é um idosão", resume Eliane com carinho.
Luna: A fêmea recordista
Outra onça-pintada que se destaca pela idade avançada é Luna, que vive no Zoológico de Limeira, em São Paulo. Sua história começou de forma dramática: ela foi resgatada em 2002, em Manaus, após uma denúncia de tráfico de animais.
Segundo o Ibama, o animal seria levado ilegalmente para fora do país quando foi interceptado pelas autoridades. Após o resgate, foi encaminhada para o zoológico paulista, onde vive até hoje.
Luna tinha aproximadamente dois anos ao chegar ao local e hoje possui idade estimada em 25 anos, figurando como a fêmea da espécie mais longeva do Brasil. Ela apresenta saúde estável e recebe cuidados diários de veterinários e tratadores especializados.
A onça divide seu espaço com o filho Negão, nascido em 2007, que recentemente completou 18 anos de idade.
O trabalho do Cigs com onças-pintadas
O Zoológico do Cigs abriga atualmente 14 onças-pintadas, sendo que 11 delas possuem a pelagem tradicional da espécie. A mais jovem do grupo é Baniwa, resgatada no bairro Tarumã após ser mantida em cárcere privado e anunciada por R$ 20 mil em um site da internet.
O local também cuida de dois irmãos resgatados em Tefé, que ficaram famosos ao serem filmados brincando na água. Segundo a bióloga do zoológico, os machos costumam demonstrar maior apreço pela água do que as fêmeas.
O lago artificial do recinto é mantido com ajuda da planta aquática salvinia, que funciona como um filtro natural, garantindo a qualidade da água para os animais.
A história de Guardião e Luna mostra como o cuidado adequado em cativeiro pode proporcionar uma vida longa e saudável para animais que, na natureza, enfrentariam desafios muito maiores para alcançar idades tão avançadas.