Uma pesquisa revolucionária da Universidade de Cambridge descobriu que golden retrievers e humanos compartilham genes ligados ao comportamento emocional. O estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences em 26 de novembro de 2025, analisou o DNA de 1.300 cães da raça e revelou conexões genéticas surpreendentes entre espécies.
Como a pesquisa foi conduzida
Os pesquisadores realizaram uma análise detalhada do material genético dos animais e cruzaram esses dados com avaliações comportamentais fornecidas pelos proprietários. Os donos responderam a um questionário abrangente sobre 73 comportamentos diferentes exibidos por seus cães, incluindo características como facilidade de treinamento, nível de medo diante de estranhos e reação a barulhos fortes.
Ao comparar os resultados genéticos com as informações comportamentais, os cientistas identificaram regiões específicas do genoma canino associadas a traços como agressividade contra outros cães, energia elevada, facilidade de aprendizado e medo de desconhecidos.
Conexão genética entre espécies
A descoberta mais impactante veio quando essas regiões genômicas foram comparadas com bancos de dados humanos. Os pesquisadores encontraram um padrão genético compartilhado que influencia tanto o comportamento dos cães quanto as emoções humanas.
Os mesmos genes que afetam o comportamento dos golden retrievers também aparecem associados a traços emocionais em pessoas, incluindo:
- Preocupação excessiva
- Sensibilidade emocional
- Irritabilidade
- Inteligência
- Predisposição à ansiedade
Implicações para a convivência com cães
Os resultados ajudam a explicar por que alguns cães têm mais dificuldade para lidar com estímulos cotidianos, como visitas inesperadas, barulhos na rua ou encontros com outros animais. Comportamentos interpretados como "teimosia" ou "birra" podem, na realidade, refletir um nível de estresse biologicamente determinado, semelhante ao que ocorre em pessoas com predisposição à ansiedade.
O estudo também revelou que a "treinabilidade" dos cães está ligada a um gene que, em humanos, participa de funções relacionadas à inteligência e capacidade de lidar com emoções. Isso significa que aprender comandos não é apenas questão de repetição, mas também de equilíbrio emocional.
A pesquisa abre caminho para abordagens mais personalizadas de cuidado, especialmente para cães muito medrosos ou reativos. Como alguns dos genes associados ao comportamento canino também influenciam condições humanas ligadas à ansiedade, compreender essa relação pode ajudar veterinários a ajustar técnicas de manejo e treinamento.
Os cientistas ressaltam, no entanto, que nenhum gene isolado define o comportamento completo de um animal. Em vez disso, cada região do DNA influencia aspectos gerais da forma como o cão percebe e reage ao ambiente, regulando sensibilidade, irritabilidade, energia e outros estados emocionais que moldam a personalidade única de cada animal.