Formigas doentes jovens pedem para ser mortas por odor, revela estudo
Formigas doentes pedem para ser mortas para salvar colônia

Um estudo publicado na revista científica Nature Communications nesta terça-feira, 2 de abril, revelou um comportamento extremo e altruísta em formigueiros. Quando formigas jovens, no estágio de pupa, contraem uma doença fatal e contagiosa, elas emitem um odor químico específico que pede, literalmente, para que as operárias adultas as matem. O objetivo é proteger a colônia de uma epidemia devastadora.

O mecanismo de defesa coletiva

Os formigueiros, com sua alta densidade populacional e contato constante, são um ambiente perfeito para a propagação de patógenos. A ecóloga comportamental Erika Dawson, do Instituto de Ciência e Tecnologia da Áustria (ISTA) e autora principal do estudo, explica à AFP que, diante desse risco, as formigas desenvolveram estratégias drásticas.

Quando um adulto adoece com algo contagioso, ele simplesmente se afasta do ninho para morrer sozinho, isolando a ameaça. No entanto, as pupas – jovens ainda envoltas em um casulo – não têm essa mobilidade. Ficam presas no local, representando um perigo em potencial para toda a comunidade.

O cheiro da morte e o ato final

Os cientistas já sabiam que pupas em fase terminal de doença sofrem uma alteração química. A nova pesquisa, focada na espécie Lasius neglectus (formiga-preta-de-jardim), foi além: quis descobrir se as jovens tinham um papel ativo no processo.

E a resposta é sim. As pupas doentes produzem voluntariamente um odor específico na presença das adultas, como um sinal claro: "Ei! Venha e me mate". Ao detectar esse cheiro, as operárias se reúnem, removem o casulo da pupa e a perfuram, aplicando um veneno que age como um desinfetante potente. Essa substância elimina tanto o patógeno quanto a própria crisálida, sacrificando o indivíduo para salvar a colônia.

A exceção real: as rainhas

O estudo descobriu um detalhe crucial: esse mecanismo de "alerta suicida" não se aplica às rainhas quando estão no estágio de pupa. Se uma futura rainha adoece, ela não emite o odor químico que pede a eutanásia.

A explicação, segundo a pesquisadora Dawson, está na biologia: "Descobrimos que as rainhas em estado de crisálida têm um sistema imunológico muito melhor que as operárias. Portanto, são capazes de combater a infecção e acreditamos que esta seja a razão pela qual não se acusam". A sobrevivência da rainha é vital para a perpetuação da colônia, justificando essa "isenção" do sacrifício obrigatório.

Os experimentos de laboratório confirmaram a hipótese. Quando os cientistas isolaram o odor de uma pupa doente e o introduziram perto de crias saudáveis, as operárias correram para destruí-las, demonstrando que o cheiro é o gatilho inequívoco para a ação. A descoberta revela um nível sofisticado de comunicação e altruísmo evolutivo, onde o bem da comunidade prevalece sobre a vida do indivíduo, a menos que esse indivíduo seja a rainha.