Falcoaria em Ribeirão Preto reabilita aves com fisioterapia especial
Falcoaria reabilita aves em Ribeirão Preto

Um projeto inovador de falcoaria está transformando a vida de aves resgatadas em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Desenvolvido no Bosque e Zoológico Fábio Barreto, a iniciativa funciona como uma verdadeira fisioterapia para animais que precisam recuperar capacidades físicas antes de retornar à natureza.

Fisioterapia com penas

As aves participantes do programa foram todas resgatadas e passaram pelo Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetras) Morro do São Bento. Segundo o médico veterinário Pedro Favaretto, muitos animais que completam a reabilitação clínica, nutricional e comportamental ainda precisam de um trabalho adicional para recuperar totalmente suas habilidades.

"Os animais que foram reabilitados na parte clínica, nutricional, comportamental do Cetras vêm para a equipe do zoológico para passar por um procedimento como se fosse uma fisioterapia", explica Favaretto.

Pacientes especiais em treinamento

Entre os "alunos" mais emblemáticos do projeto estão três aves com histórias diferentes:

  • Atenas: uma coruja orelhuda que ainda está aprendendo a voar
  • Zeus: um gavião-de-rabo-curto em recuperação de fratura na asa
  • Morfeu: um carcará que perdeu parte da flexibilidade durante o tratamento

Todos estão na fase inicial de treinamento e recebem acompanhamento constante de veterinários e zootecnistas.

Processo rigoroso de recuperação

Os treinos envolvem alimentação controlada e exercícios específicos para fortalecimento muscular. O processo é meticuloso e pode levar meses até que as aves estejam preparadas para voos longos e, quando possível, para o retorno ao habitat natural.

O controle de peso é particularmente rigoroso. Alexandre Gouvea, zootecnista responsável pelo Bosque e pelo Cetras, enfatiza que "cada grama é fundamental" quando o objetivo é a reabilitação do voo.

O trabalho é realizado em etapas progressivas:

  1. Acostumação com equipamentos utilizados pelos profissionais
  2. Aprendizado para empoleirar no braço do treinador
  3. Primeiros saltos controlados
  4. Voos em distâncias gradualmente maiores

Educação ambiental e qualidade de vida

Além da recuperação física, o projeto tem impacto direto no bem-estar dos animais. Um caso emblemático é o do gavião-carijó Zé, que ficou cego e não pode ser devolvido à natureza. Para ele, a falcoaria representou uma nova chance de vida com dignidade.

"Esse indivíduo não tem a menor condição de voltar para a natureza sem a visão, portanto, eles permanecem na instituição zoológica, participando desse treinamento para ter qualidade de vida", afirma Favaretto.

A iniciativa também serve como ferramenta de educação ambiental, conscientizando visitantes sobre a importância da preservação da fauna. Os treinamentos são realizados ao ar livre, no meio do parque, de quarta-feira a domingo, das 15h30 às 16h, permitindo que o público acompanhe parte do processo.

Para Pedro Henrique Dantas, estudante de 10 anos que conheceu o projeto, a iniciativa representa "uma oportunidade de cuidar e dar uma nova vida para os animais", demonstrando como ações de conservação podem inspirar as novas gerações.