Um policial aposentado transformou sua aposentadoria em uma missão de proteger a Mata Atlântica no município de Tapiraí, no interior de São Paulo. Fernando Alves Ferreira, que se aposentou em 2020, tornou-se um guardião voluntário da floresta, dedicando-se a desfazer armadilhas usadas por caçadores ilegais e a preservar a fauna local.
Da farda à floresta: a rotina de um guardião
Com passos cuidadosos e um olhar atento a qualquer vestígio de atividade criminosa, Fernando percorre regularmente as áreas verdes do município. Em cinco anos de trabalho voluntário, ele incorporou essa rotina à sua vida, movido pela necessidade de contribuir para a conservação da fauna e da flora da região onde sempre viveu e trabalhou.
"Quando me aposentei, senti a necessidade de ajudar a manter a fauna e a flora. Como sempre andei muito na mata, comecei a encontrar várias armadilhas", relembra o ex-policial. Foi a partir dessas descobertas que nasceu a ideia de patrulhar a floresta com o objetivo específico de localizar e destruir os artefatos usados para capturar animais silvestres.
O símbolo do Curupira e o combate aos criminosos
A atuação incansável de Fernando não passou despercebida pelos caçadores, que, incomodados, passaram a chamá-lo de "assombração". A resposta do guardião foi tão criativa quanto simbólica. Ele adotou a figura do Curupira, personagem do folclore brasileiro conhecido por proteger as florestas e os animais, como sua marca registrada.
Após desmontar cada armadilha, Fernando fixa no local uma pequena placa com a imagem do menino de cabelos de fogo e pés virados para trás. "Já que eles me acham uma assombração, eu vou pegar o Curupira como o fato de eu passar no local e eles saberem que passei lá", explica. Acredita-se que, em pouco mais de cinco anos, mais de 150 armadilhas tenham sido destruídas por suas mãos.
Impacto na preservação e ações educativas
O trabalho solitário do ex-policial tem um impacto profundo na preservação de espécies, algumas delas ameaçadas de extinção, como a ave jacutinga. A educadora ambiental Patrícia Faria, que atua em uma ONG local, ressalta a importância dessa vigilância. "A gente já resgatou desde uma anta de 250 quilos até um saruê de 35 gramas. Muitos animais chegam machucados justamente por essas armadilhas", relata.
A ONG complementa o trabalho de campo com ações de resgate e, principalmente, educação ambiental nas escolas municipais de Tapiraí e de outras cidades do Vale do Ribeira. A secretária municipal de Sustentabilidade, Marimar Guidorzi de Paula, enfatiza que a educação é a chave para a mudança. "Para nós, o mais importante é a educação nas escolas com as crianças, para que elas também possam ser os 'guardiões da natureza' e explicar para seus pais", afirma.
Além das ações contra a caça, o município tem implementado medidas para coibir loteamentos irregulares em áreas de floresta. Tapiraí possui um patrimônio natural valioso: cerca de 755 quilômetros quadrados de Mata Atlântica, com quase 90% de sua área preservada. "Quando a sociedade, as ONGs e o poder público caminham na mesma direção, a vida floresce. Mas, sem vigilância constante, esse tesouro verde pode desaparecer", alerta a secretária.
A Polícia Militar Ambiental também tem sido acionada para atuar na região, orientando a população sobre os canais de denúncia e seu papel no combate aos crimes ambientais. A história de Fernando Alves Ferreira mostra que a proteção do meio ambiente pode começar com a iniciativa corajosa de um único cidadão, transformando-o em um verdadeiro herói da floresta.