158 resgates de animais silvestres em Presidente Prudente: o desafio da reinserção
Desafio de reinserir animais silvestres na natureza em SP

O crescimento das cidades e das áreas rurais no interior de São Paulo tem um preço alto para a fauna nativa. Com a redução de fragmentos de mata e o avanço de estradas e construções, milhares de animais silvestres perdem seus habitats, aumentando os encontros, muitas vezes conflituosos, com seres humanos. Essa realidade se reflete no número de resgates realizados pelas autoridades.

Resgates e a conscientização da população

Na região de Presidente Prudente, de janeiro a 25 de novembro de 2025, a Polícia Militar Ambiental realizou 158 resgates de animais silvestres. Desse total, 25 precisaram ser encaminhados a centros especializados para cuidados mais complexos. O capitão Júlio César Cacciari, da Polícia Ambiental, explica que o aumento nas capturas não significa necessariamente mais animais na natureza, mas sim uma maior conscientização da população.

"Também contribui o número crescente de denúncias relacionadas à posse ilegal de animais, situação em que a corporação efetua o resgate e a destinação adequada", afirma o oficial. Entre as situações mais comuns que demandam a ação dos policiais estão a presença de animais em casas e comércios, animais feridos ou atropelados, filhotes isolados e casos de posse ilegal.

As espécies mais atendidas incluem aves silvestres, jabutis, tamanduás-mirins, gambás e ouriços-cacheiros. Após o resgate, animais saudáveis são reintroduzidos em áreas apropriadas, enquanto os feridos ou debilitados seguem para centros de triagem.

O árduo trabalho de reabilitação na APASS

Um dos centros de referência no interior paulista é a Associação Protetora de Animais Silvestres (APASS), localizada em Assis. A instituição atua como Centro de Triagem e de Reabilitação (Cetras) e recebe, anualmente, entre 1.200 e 1.300 animais de todo o estado.

Somente em 2025, a APASS recebeu 82 animais de 17 cidades da região oeste de São Paulo. A cidade que mais encaminhou animais foi Teodoro Sampaio, com 34 casos, local que abriga o maior remanescente de Mata Atlântica no interior do estado. O fundador e presidente da associação, Aguinaldo Marinho de Godoy, compara a soltura de um animal reabilitado à alta de um paciente hospitalar.

O processo é minucioso, começando pela triagem para avaliar o risco e o estado de saúde, seguido de um longo período de reabilitação com o objetivo final de devolver o animal à vida livre. No entanto, as taxas de sucesso variam muito conforme o grupo animal.

Mamíferos: o maior desafio técnico

Enquanto répteis são considerados mais independentes e as aves atingem cerca de 80% de reintrodução, os mamíferos representam o obstáculo mais complexo. Muitos chegam à associação ainda filhotes e, durante o tratamento, precisam ser alimentados com mamadeira ou de forma assistida, o que cria um forte vínculo com os humanos.

"Por causa disso, muitos filhotes associam o fornecimento de cuidado e comida com o ser humano. Esse é o grande complicador no pós-tratamento", detalha Marinho. Atualmente, a APASS abriga mais de 20 onças-pardas. Dessas, apenas três jovens, que tiveram mais contato com a mãe e mantêm instinto selvagem aguçado, estão em preparação para soltura. As outras permanecerão sob os cuidados da instituição.

Um caso de superação que se tornou emblemático foi o de um cachorro-do-mato (graxaim) chamado Max. Ele chegou com uma grave lesão na bacia, usando uma cadeira de rodas improvisada. Após um ano de tratamento intensivo com fisioterapia e acupuntura, recuperou os movimentos e, mais importante, seus instintos. Solto em 2010, nunca mais retornou a áreas urbanas.

A sazonalidade dos resgates

A demanda pelo centro de reabilitação não é constante e sofre influência direta das atividades humanas e do clima. Durante a colheita da cana-de-açúcar, por exemplo, aumenta o número de animais atropelados por máquinas ou de filhotes abandonados por mães que fogem do barulho. Já nos períodos de estiagem, são comuns os casos de animais feridos por queimadas ou intoxicados pela fumaça, que se aventuram em cidades em busca de água e alimento.

Orientações e alertas para a população

Ter um animal silvestre sem autorização é crime ambiental e constitui maus-tratos, já que a maioria das pessoas não conhece os cuidados específicos que cada espécie requer. O manejo inadequado ainda pode elevar o risco de transmissão de doenças como leptospirose e psitacose.

As orientações das autoridades são claras para quem se depara com um animal silvestre:

  • Mantenha distância e não tente capturá-lo ou tocá-lo.
  • Não ofereça alimento e não tente expulsá-lo por conta própria.
  • Proteja o ambiente sem se colocar em risco.
  • Acione imediatamente a Polícia Militar Ambiental.

"Se possível, e quiser adotar um animal porque ama animal, adota um gato, um cachorro. Não adquira um animal silvestre", reforça Marinho. Para quem deseja ter uma ave de criadouro, é essencial consultar a Secretaria de Meio Ambiente do Estado para confirmar a veracidade da nota fiscal.

A colaboração da sociedade é fundamental no combate a crimes ambientais. Denúncias de venda clandestina, maus-tratos ou posse ilegal podem ser feitas por vários canais:

  • Linha Verde do Ibama: 0800-061-8080
  • Polícia Militar Ambiental de Presidente Prudente: (18) 3906-9200
  • Delegacias, de forma presencial ou online
  • Emergências: 190

A APASS mantém sua estrutura, que abriga cerca de 800 animais de diversas espécies, com um custo mensal de aproximadamente R$ 140 mil. A sobrevivência do centro depende de parcerias com supermercados, concessionárias de rodovias e energia, e contribuições articuladas pelo Ministério Público. A partir de 2026, novas diretrizes estaduais devem cobrar dos municípios uma gestão de fauna mais rigorosa, ampliando a integração com centros de reabilitação como a APASS.