Registro histórico na Mata de Santa Genebra
Pela primeira vez, o inhambu-chintã (Crypturellus tataupa) foi fotografado na Mata de Santa Genebra, uma área de preservação ambiental de 250 hectares localizada em Campinas, no interior de São Paulo. O registro inédito aconteceu em outubro e foi realizado pelo biólogo Thomaz Henrique Barrella, que trabalha na Área de Relevante Interesse Ecológico.
A busca pelo registro da ave discreta
Thomaz Barrella já conhecia a presença de um casal de inhambu-chintã na trilha do Jatobá, próxima à sede da mata, mas nunca havia conseguido aproximação suficiente para fotografar os animais. "Por volta das 10h30, eu estava na trilha, com minha câmera, e resolvi checar se eles estavam por perto. Para isso utilizei a reprodução de um playback", contou o biólogo.
Imediatamente houve resposta das aves. "Para minha surpresa, o casal não só se aproximou como passou pela trilha, em um ponto sem interferência para a foto", comemorou Barrella, que já tentava há anos registrar a espécie no local. O biólogo revela que ouvir o canto do inhambu-chintã não é raro na Mata de Santa Genebra, mas avistá-lo é bastante difícil devido aos seus hábitos discretos e preferência por áreas de vegetação densa.
Significado do registro para a preservação ambiental
A presença do inhambu-chintã na Mata de Santa Genebra indica que o trabalho de preservação da Fundação José Pedro de Oliveira tem dado resultados. A ave, que mede aproximadamente 23 centímetros, possui hábitos florestais e necessita de ambiente estável para sobreviver, alimentando-se de sementes e pequenos insetos no chão da mata.
Thomaz Barrella acredita que possa haver mais indivíduos na região, especialmente nas manchas de floresta da APA Campinas e nas Áreas de Preservação Permanentes dos rios. A espécie ocorre desde o Nordeste brasileiro até a Argentina, onde é conhecida como "perdiz del monte" ou "perdiz del hogar".
O inhambu-chintã desempenha papel importante no ecossistema, ajudando na dispersão de sementes e no controle de população de insetos, favorecendo a regeneração e o equilíbrio florestal. A ave serve de presa para animais como cachorros-do-mato, jaguatiricas e onças-pardas, o que explica seu comportamento discreto.
Conexão com a cultura sertaneja
O inhambu-chintã ganhou fama na música sertaneja através dos compositores Athos Campos e Serrinha, interpretada pela dupla Tonico e Tinoco. O refrão "É o inhambu-chintã e o chororó" tornou-se clássico do gênero. Curiosamente, a ave também inspirou o nome da famosa dupla Chitãozinho e Xororó.
Segundo o biólogo Thomaz Barrella, "seu canto marcante, sua beleza e o fato de necessitar um ambiente específico, só encontrado em áreas preservadas, fizeram o autor da música se referir a ele". O pesquisador destaca que a letra da canção fala sobre não trocar o sossego "do mato" por uma casa na cidade, reflexo direto do habitat natural da espécie.
A foto histórica foi publicada nas plataformas de registro de aves Wikiaves e e-Bird, contribuindo para o conhecimento científico sobre a distribuição, períodos de ocorrência e características ambientais preferidas pela espécie.