
Quem disse que igreja é só lugar de gente? Neste último sábado, a Paróquia São Francisco de Assis, localizada no bairro São Francisco, em Teresina, ficou lotada de fiéis de quatro patas — e alguns de duas asas também. A tradicional missa em homenagem ao padroeiro dos animais transformou o espaço sagrado num verdadeiro arca de Noé, com direito a latidos, miados e até cocoricó durante a cerimônia.
O padre José Raimundo, que comandou a celebração, parecia ter aceitado o desafio com bom humor. "São Francisco nos ensina a cuidar da criação divina", lembrou ele, enquanto a água benta voava — literalmente — sobre os peludos presentes. A cena era das mais incomuns: donos orgulhosos segurando coleiras, animais vestidos com suas melhores roupas (sim, tinha cachorro de gravata!) e aquela mistura característica de reverência e bagunça que só quem tem pet em casa conhece.
Diversidade na Casa de Deus
O que mais chamava atenção era a variedade. Não eram apenas cães e gatos — tinha coelho, periquito e, pasmem, uma galinha que parecia mais comportada que muitos dos caninos. Uma senhora, dona de três vira-latas resgatados das ruas, confessou: "Todo ano trago meus filhos peludos. Eles merecem a bênção tanto quanto nós".
Os animais, curiosamente, pareciam entender a solenidade do momento. A maioria se manteve extraordinariamente tranquila durante os cânticos e orações. Só de vez em quando um latido mais entusiasmado quebrava o silêncio, seguido por risos contidos da plateia. A atmosfera era de pureza e inocência — algo que, convenhamos, faz falta nos dias de hoje.
Tradição Que Vem de Longe
Essa prática de abençoar os animais no dia de São Francisco não é nova, mas nunca perde o encanto. Remonta ao século XIII, quando o próprio santo pregava aos pássaros e chamava todos os seres de "irmãos". Em Teresina, o costume se mantém forte, reunindo gerações de famílias e seus companheiros animais.
"É emocionante ver o carinho das pessoas por seus bichinhos", observou uma das organizadoras, enquanto ajudava a conter um golden retriever particularmente eufórico. "Alguns vêm há anos, outros são estreantes. Mas todos compartilham o mesmo amor incondicional por essas criaturas."
No final da cerimônia, enquanto os raios do sol da tarde banhavam o pátio da igreja, cada animal recebeu sua bênção individual. Os donos saíam com sorrisos largos, segurando as coleiras com renovado afeto. Parecia que, por algumas horas, o mundo lá fora — com seus problemas e complexidades — tinha dado uma trégua.
Quem presenciou a cena dificilmente esquecerá: num tempo onde tudo parece tão complicado, às vezes a simplicidade de um cachorro abanando o rabo durante uma oração é o lembrete mais poderoso do que realmente importa. E São Francisco, de onde estiver, certamente aprovou a festa.