
Salvador acordou diferente nesta segunda-feira. O que era pra ser mais um dia comum na capital baiana se transformou em um daqueles dias que a gente não esquece - e que ninguém gostaria de viver. Tudo começou com uma notícia que correu rápido pelos becos e ladeiras de Pirajá: um garoto de 17 anos, com a vida toda pela frente, tinha partido durante uma operação policial.
E não deu outra. A indignação, aquela que vem da alma, tomou conta das ruas. Moradores - gente comum, trabalhadores, mães de família - foram pra rua protestar. E quando a comunidade se levanta assim, é porque a ferida é profunda.
O que realmente aconteceu?
A Polícia Militar conta uma versão. Diz que estava numa operação de rotina quando se deparou com suspeitos armados. Que houve troca de tiros. Mas os moradores... ah, os moradores contam outra história. Falam de um adolescente que não representava perigo, que estava no lugar errado na hora errada.
É sempre assim, não é? Dois lados da mesma moeda, e no meio fica a verdade - essa danada da verdade que sempre parece escorrer entre os dedos.
As ruas falam mais alto
O protesto não foi coisa pequena. A Avenida Suburbana, uma das principais vias da região, virou palco da revolta popular. Carros e ônibus parados, trânsito completamente caótico. Mas sabe o que é pior? Ninguém ali estava preocupado com o trânsito.
"É sempre com a gente", desabafa uma senhora que prefere não se identificar. "Os jovens da periferia viram estatística, viram número. Esquecem que são filhos, netos, irmãos."
E ela tem razão, convenhamos. Quantas vezes já não vimos essa cena se repetir?
E agora, José?
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) emitiu uma nota. Diz que abriu procedimento interno pra apurar os fatos. É o protocolo, todo mundo sabe. Mas será que protocolo devolve um filho? Será que investigação tira a dor de uma mãe?
Enquanto isso, a vida segue - ou tenta seguir - em Pirajá. O clima é de luto e revolta. E de uma pergunta que não quer calar: até quando?
O caso me lembra aquela frase que circula nas redes sociais: "Quando a pobreza entra pela porta, a justiça sai pela janela". E cá entre nós, às vezes dá vontade de concordar.
Salvador é uma cidade linda, vibrante, cheia de cultura. Mas também tem seus fantasmas. E hoje, mais um fantasma se junta aos muitos que assombram as comunidades carentes da cidade.
Restam as perguntas sem resposta, a dor sem consolo, e a esperança - sempre ela - de que um dia as coisas possam ser diferentes.