PM é flagrado em ação violenta na Zona Leste de SP: voadora, spray e cassetete
Vídeos mostram PMs agredindo moradores na Zona Leste de SP

Uma abordagem policial realizada no último domingo (30) na Vila São Nicolau, Zona Leste de São Paulo, gerou revolta entre moradores após ser registrada em vídeo. As imagens, capturadas por câmeras de segurança e celulares, mostram policiais militares aplicando golpes como voadoras, socos, cassetetes e spray de pimenta contra pessoas que estavam na rua.

Detalhes da ação violenta na Rua Cachoeira São Benedito

O episódio começou por volta das 18h30 na Rua Cachoeira São Benedito. O local, que estava movimentado com crianças brincando e adultos conversando, foi surpreendido pela chegada de viaturas da Polícia Militar. Testemunhas relatam que os carros chegaram em alta velocidade, cantando pneu.

Um dos policiais desceu do veículo já com a arma em punho, ordenando que as pessoas se afastassem. Enquanto parte dos moradores corria, um homem identificado pela comunidade como uma pessoa com deficiência permaneceu sentado. As imagens mostram o momento em que ele é derrubado da cadeira e, em seguida, recebe spray de pimenta diretamente no rosto.

Outros vídeos, gravados por moradores durante a confusão, registram mais agressões. É possível ver um policial desferindo um soco no rosto de um homem e, segundos depois, outro agente saltando para acertar uma voadora em um rapaz de camiseta azul.

Relatos das vítimas e versão conflitante da PM

Um dos agredidos, que preferiu não se identificar, deu seu depoimento. Ele afirmou que estava com a família no momento da ação. “Eu estava com a minha sobrinha, com a minha filha e a minha irmã. Quando os policiais chegaram, minha irmã estava segurando a minha filha no colo”, contou. “Eu falei ‘Calma, policial, minha filha está aqui e minha sobrinha está aqui’. Nisso, do nada, o policial me deu uma voadora”.

Nos registros, também é possível ouvir o desespero de quem tentava se proteger. “Mãe, vem pra cá! O Ryan está lá! O que o Ryan foi fazer pra lá? Ele tá brincando, ele é criança, gente!”, grita uma pessoa. Em determinado momento, um policial se abaixa, pega uma pedra do chão e a arremessa na direção de quem filmava.

No boletim de ocorrência, os policiais apresentaram uma versão diferente. Eles afirmaram que estavam em patrulhamento quando foram acionados para uma tentativa de roubo. Segundo o relato oficial, moradores teriam tentado impedir a prisão de um suspeito, chamado Igor, arremessando pedras e garrafas, o que colocaria a vida da equipe em risco. Para conter a suposta agressão, o soldado Bastos teria efetuado cinco disparos. A PM classificou a ação como “positiva” e disse que ninguém ficou ferido.

Vítima precisa de pontos e questiona ação policial

A versão de que não houve feridos é contestada por uma moradora que também não quis se identificar. Ela precisou ser levada ao hospital, onde levou dois pontos na cabeça, e ainda apresenta marcas nos braços. Segundo ela, sua única intenção era avisar os PMs de que o homem agredido era um morador da rua.

“Veio eu e um vizinho falar que esse morador, que o rapaz que eles estavam agredindo, era apenas um morador da rua. Em nenhum momento eu tinha nada na minha mão”, explicou. “A gravação mostra que eu cheguei correndo avisando que ele era morador. E nesse mesmo momento eu fui recebida com spray de pimenta. Apanhei duas vezes no braço com o cassetete e ainda arremessaram um banco que abriu a minha cabeça”.

Dois dias após o ocorrido, ela relata sofrer com dores físicas e psicológicas. “Eu queria muito ver a gravação do policial que me agrediu, ver se eu estava oferecendo algum tipo de ameaça pra ele. Em nenhum momento eu fui interromper o trabalho deles”, desabafou.

O que diz a Secretaria de Segurança Pública

Questionada sobre o caso, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) preferiu enviar uma nota. A pasta informou que a Polícia Militar instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a ocorrência e todas as circunstâncias registradas. A nota afirma que “a PM não tolera desvios de conduta” e que o caso será investigado até que todas as responsabilidades sejam definidas.

O episódio reacende o debate sobre o uso da força por parte das instituições policiais e a importância da transparência nas investigações de supostos abusos.