MPRJ denuncia dois PMs por homicídio de Herus Mendes no Santo Amaro
MPRJ denuncia dois PMs por homicídio de Herus Mendes

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) apresentou denúncia contra dois policiais militares pelo homicídio qualificado de Herus Guimarães Mendes, ocorrido em junho deste ano durante uma operação no morro Santo Amaro, na zona sul do Rio. As acusações foram fundamentadas em vídeos exclusivos obtidos pelo g1 e pela TV Globo, captados pelas câmeras corporais dos agentes.

Vídeos contradizem versão policial

As imagens registraram o momento exato em que Herus Mendes foi baleado. A análise desse material levou o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp) do MPRJ a denunciar o sargento Daniel Sousa da Silva e o tenente Felippe Carlos de Souza Martins. Segundo a denúncia, a movimentação de Herus era "inequivocamente compatível com a busca por abrigo e proteção", e não representava qualquer ameaça aos policiais.

O documento do Ministério Público afirma que os agentes tinham conhecimento da proximidade entre o local onde supostamente estavam traficantes procurados e o ponto onde acontecia uma festa junina na comunidade. Os promotores rejeitaram frontalmente a conclusão da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que havia considerado a ação do sargento Daniel como legítima defesa putativa – quando o agente age acreditando em uma ameaça que não é real.

Discrepância nos segundos que antecederam os tiros

Enquanto o relatório da Polícia Civil afirma que o policial levou dois segundos entre dar uma ordem a Herus e efetuar os disparos, os vídeos das câmeras corporais mostram que esse intervalo foi de apenas um segundo, em meio a gritos e tiros. O MPRJ classificou a conclusão da DH como "no mínimo inusitada" e argumentou que as provas não sustentam a avaliação de que um suposto movimento brusco da vítima justificasse a reação do PM.

De acordo com a denúncia do Gaesp, o sargento Daniel Sousa da Silva assumiu o risco de matar ao efetuar disparos contra o jovem, que estava desarmado e de costas para os policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). O tenente Felippe Carlos de Souza Martins foi denunciado por não ter interrompido a operação, mesmo ciente da realização da festa junina na localidade naquela madrugada.

Defesa dos policiais e protestos na comunidade

A defesa dos agentes, por meio do advogado Patrick Berriel, sustentou que os policiais foram atacados por criminosos ao chegarem à comunidade e que o sargento Daniel não teve intenção de matar, agindo apenas para defender a própria vida e a de sua equipe. O advogado reiterou que havia informações sobre a presença de traficantes no local.

A morte de Herus Mendes, que trabalhava como office-boy, gerou protestos na comunidade do Santo Amaro. A vítima foi atingida e, mesmo agonizando, foi questionada por um dos PMs em um áudio captado pelas câmeras, que perguntou se ela era "band" (bandido). Herus foi posteriormente levado ao hospital por uma equipe do Bope, mas não resistiu aos ferimentos.

O caso agora segue para a Justiça, que deverá analisar as denúncias do Ministério Público contra os dois policiais militares, em um episódio que reacende o debate sobre o uso da força e a conduta em operações policiais em comunidades.