3 mortos em operação da Core na Maré: MP investiga caso de vendedor de queijos
MP investiga mortes em operação policial na Maré

MP do Rio investiga mortes durante operação da Core na Maré

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro iniciou uma investigação para apurar as circunstâncias das mortes de três pessoas durante uma operação da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) da Polícia Civil. A ação ocorreu na Vila dos Pinheiros, no Complexo da Maré, na última terça-feira (26).

A 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada abriu o procedimento investigatório na quinta-feira (27), com atenção especial ao caso de Bruno Paixão, de 36 anos, que trabalhava como vendedor de queijos na região.

Desaparecimento e localização do corpo

O corpo de Bruno Paixão ficou desaparecido por várias horas até ser localizado e reconhecido pela família no Instituto Médico Legal, no centro do Rio. A Promotoria já determinou as primeiras diligências, requisitando todas as imagens das câmeras corporais dos policiais envolvidos na ação.

Além das filmagens, foram solicitados laudos do local, necropsia, boletins de atendimento médico, depoimentos e demais documentos já produzidos no inquérito policial. Testemunhas e familiares das vítimas também serão ouvidos durante as investigações.

Versões conflitantes sobre a operação

A operação foi deflagrada após a Core afirmar ter recebido informações de inteligência sobre uma liderança de facção que planejava invadir outra comunidade. A ação ocorreu na tarde de quarta-feira e resultou, além das três mortes, em um adolescente de 12 anos baleado.

No mesmo dia, a Polícia Civil declarou que os três mortos eram "narcotraficantes" e atuavam como segurança de um chefe do tráfico local. A corporação não detalhou se Bruno Paixão estava incluído nessa contagem, informando apenas que a Delegacia de Homicídios da Capital apura três mortes.

Protestos e contestação da versão oficial

A versão oficial foi contestada por familiares e moradores. À noite, vias expressas da cidade foram bloqueadas em protesto contra as mortes. Parentes afirmam que Bruno trabalhava vendendo queijos em uma Kombi e foi baleado logo após gritar para policiais que era trabalhador.

Testemunhas ouvidas relatam que o vendedor estava prestes a iniciar mais um dia de vendas quando foi cercado por dois blindados da polícia. Ao sentar-se no banco do motorista, Bruno teria levantado as mãos para fora da janela e dito que era morador, mas foi atingido por tiros no pescoço e nas costas.

Um vídeo mostrado à reportagem mostra Bruno caído ao lado da Kombi, na porta do motorista. O veículo passou por perícia na 21ª DP (Bonsucesso) e apresentava ao menos 11 marcas de disparo no vidro frontal, além de perfurações no vidro traseiro e na lateral.

Segundo um irmão, Bruno não chegou a ser levado a um hospital – o corpo foi enrolado em um lençol e colocado na carroceria de uma caminhonete da polícia.

Polícia Civil divulga vídeo de drone

Nas redes sociais, a Polícia Civil publicou na quinta-feira um vídeo gravado por drone que, segundo a corporação, mostraria Bruno em um bunker do tráfico. "No Complexo da Maré, o 'queijeiro' não era um inocente na cena. As imagens mostram sua participação ativa no tráfico. Não acredite em narrativas antipolícia", diz o texto da postagem.

Morador do Timbau, também na Maré, Bruno tinha 14 irmãos e, segundo a família, manteve a tradição dos pais ao vender queijos pelas ruas da comunidade.