Uma manifestação contra a administração da prefeita Adriane Lopes (PP) terminou em violência e prisões no centro de Campo Grande na noite de sábado (29). O protesto, organizado por grupos de mães atípicas e motoentregadores, foi reprimido pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) com agressões físicas e detenções.
Confronto durante evento natalino
Os conflitos começaram quando os manifestantes se aproximaram do local onde ocorria o lançamento do evento "Natal dos Sonhos", organizado pela prefeitura. De acordo com vídeos obtidos pelo g1, os guardas municipais agiram com força excessiva contra os participantes.
Uma mulher foi empurrada e derrubada no chão pelos agentes, enquanto um homem foi contido de forma violenta. O secretário de Segurança Pública de Campo Grande acompanhava pessoalmente a ação dos guardas durante todo o confronto.
Vítimas relatam violência
Elisângela Silva de Souza, de 43 anos, era uma das manifestantes e registrou boletim de ocorrência contra a agressão sofrida. A mãe atípica sofreu escoriações no braço e hematomas nas costas causados pela queda.
"Estou com muitas dores. A pior lesão é não poder pegar meu filho, ajudar ele a se virar em casa. Eu sou a mãe atípica que foi jogada no chão", desabafou Elisângela.
Washington Alves Pagane, de 35 anos, professor da rede municipal e um dos organizadores do protesto, foi preso durante a ação. Ele relatou que o secretário de Segurança pessoalmente ordenou sua prisão após identificá-lo como organizador.
"Ele [o secretário] chegou tranquilo, mas após me identificar como organizador do protesto, o secretário de Segurança Pública do município, pessoalmente, subiu o tom, disse que eu era muito 'peitudo'. Na sequência, mandou me prender", contou Washington.
Conduta policial questionada
Segundo relatos dos manifestantes, os guardas avançaram contra todos que estavam filmando a ação, confiscaram celulares e bateram nas mãos das pessoas para impedir as gravações. Washington descreveu que os agentes formaram um círculo ao seu redor, acertaram seu estômago, o algemaram e o levaram preso.
O professor ficou três horas algemado em uma barra de ferro antes de ser apresentado à Polícia Civil, sendo liberado somente após intervenção de advogados.
Dois homens no total foram presos durante a manifestação, que reuniu aproximadamente 40 pessoas no centro da capital. Ambos foram liberados no domingo (30).
Versão da prefeitura
Em nota oficial, a prefeitura de Campo Grande justificou a ação da GCM alegando que a segurança do evento foi reforçada devido à grande quantidade de famílias e crianças no local.
A administração municipal afirmou que um grupo de manifestantes tentou interromper as atividades e foi orientado a se afastar. Com a recusa e a "elevação dos ânimos", duas pessoas foram encaminhadas à delegacia por desacato.
A prefeitura também informou que com um dos detidos foi encontrado um canivete, que foi apreendido pelas autoridades.
O g1 tentou contato com o secretário de Segurança Pública de Campo Grande, mas não obteve resposta até a última atualização da reportagem.