Advogado morto pela ROTA em SP pode ter sido confundido com criminoso do PCC
Advogado morto pela ROTA pode ser caso de confusão de identidade

A morte de um advogado durante uma abordagem da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA), tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo, na última sexta-feira (28), levanta uma grave suspeita. A Ouvidoria da Polícia pediu à Polícia Civil que investigue se Carlos Alves Vieira, de 48 anos, foi confundido com um criminoso do Primeiro Comando da Capital (PCC) foragido da Justiça.

Dois "Ferrugens": o advogado e o criminoso

Carlos Alves Vieira e Adilson Daghia, de 56 anos, compartilhavam o mesmo apelido: "Ferrugem". Essa coincidência está no centro da investigação solicitada pela Ouvidoria. Carlos era advogado, casado, pai de dez filhos e proprietário de uma empresa de embalagens de papelão em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. Ele tinha uma única passagem pela polícia, por suspeita de furto em 2009, mas o processo foi arquivado.

Já Adilson "Ferrugem" é um criminoso condenado a 26 anos de prisão por participar do assassinato do juiz Antônio José Machado Dias, em Presidente Prudente, há 22 anos, a mando do PCC. Ele está foragido desde 2023, após não retornar de uma saída temporária do regime semiaberto.

Os detalhes da abordagem fatal

A ação policial ocorreu na tarde de sexta-feira, quando Carlos chegava de carro ao condomínio onde funcionava sua empresa, no Arujá Country Club, em Itaquaquecetuba. Segundo o boletim de ocorrência, a ROTA agiu com base em informações de inteligência de que um "indivíduo de facção criminosa, de nome Carlos", transportaria drogas e armas em um Toyota Corolla prata.

De acordo com a versão policial, houve troca de tiros durante a tentativa de abordagem. Três policiais atiraram nove vezes contra o advogado. O resgate foi chamado, mas Carlos não resistiu. Nenhum agente se feriu.

No veículo do advogado, a polícia afirma ter apreendido duas pistolas (uma Glock 9mm e uma Taurus .380), dez tabletes de maconha, um cubo de vidro com aproximadamente 200 gramas da droga e R$ 609 em dinheiro manchado de sangue. O caso foi registrado como "homicídio decorrente de oposição à intervenção policial".

Investigações e questionamentos

A Ouvidoria da Polícia, no entanto, baseou seu pedido de apuração em denúncias anônimas e no que foi divulgado pela imprensa. Parentes, amigos e comerciantes da região defendem que Carlos não tinha ligação com facções e que a única semelhança com o criminoso procurado era o apelido.

A Ouvidoria solicitou que o caso seja transferido para o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e que sejam analisadas imagens de câmeras de segurança do local. Também pediu a análise das câmeras corporais dos PMs, mas o BO informa que nenhum agente usava o equipamento durante a ação.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) informou que sua Comissão de Direitos Humanos acompanha o caso para esclarecer as circunstâncias da abordagem. A entidade destacou que Carlos estava regularmente inscrito na OAB desde julho de 2025.

Procurados, promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público disseram, em maioria, não conhecer Carlos como integrante do PCC. Um promotor mencionou que ele foi investigado em 2015 por tráfico, roubo a banco e lavagem, mas o inquérito foi arquivado.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou, em nota, que a Polícia Civil e a Polícia Militar investigam rigorosamente o caso, incluindo a análise das câmeras corporais dos agentes envolvidos.