A Universidade Estadual de Londrina (UEL), no norte do Paraná, realizou uma cerimônia emocionante e inédita na última sexta-feira, 5 de julho. A instituição entregou aos pais de Júlia Beatriz Garbossi Silva o diploma póstumo da jovem, assassinada aos 23 anos em um caso brutal que chocou a cidade. O crime, ocorrido em setembro de 2023, foi praticado por um homem identificado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) como stalker de uma amiga da vítima.
Uma homenagem à memória e um alerta para a sociedade
O Conselho Universitário da UEL aprovou a homenagem, que serviu para honrar a memória de Júlia, que cursava o 5º semestre de Ciências Sociais. A solicitação partiu do Observatório de Feminicídios de Londrina (Néias) e do Laboratório de Estudos de Feminicídios (LESFEM), destacando o caráter simbólico e de luta contra a violência de gênero. A reitora Marta Favaro foi quem entregou o certificado aos pais, Cleverton e Angelita.
A cerimônia também lembrou outras mulheres vítimas de violência: Andreia de Jesus Cabra (21 anos) e Rúbia Graziele de Almeida (19 anos), assassinadas em 2004; Tathiana Name Colado Simões (35 anos), morta em 2012; Lua Padovani, desaparecida e encontrada morta em 2017; e Sandra Mara Curti (43 anos), assassinada pelo ex-companheiro em 2020.
O crime brutal: perseguição, invasão e tragédia
O ataque aconteceu por volta das 6h15 do dia 3 de setembro de 2023, em uma casa no Jardim Jamaica, região oeste de Londrina. No local, estavam a amiga de Júlia, seu namorado Daniel Takashi, de 22 anos, e a própria Júlia. Aaron Delesse Dantas, então com 26 anos, invadiu a residência e iniciou o ataque.
A amiga sobrevivente, que falou pela primeira vez sobre os detalhes, contou à polícia que conhecia Aaron porque haviam trabalhado juntos. Ela relatou ser vítima de perseguição (stalking) dele nas redes sociais e deixou claro que nunca manteve um relacionamento amoroso com o agressor, apenas amizade.
Segundo o depoimento, os três jovens dormiam quando a mulher acordou com Aaron em cima dela. Ela pensou, inicialmente, tratar-se de um episódio de paralisia do sono. Ao perceber que era um ataque real e que estava ferida, gritou por socorro.
Júlia, ao ouvir os gritos da amiga, correu para o quarto para ajudá-la e foi esfaqueada por Aaron. Ela morreu no local. Daniel Takashi também foi atacado a facadas e não resistiu, falecendo antes da chegada do resgate.
A fuga inteligente que levou à prisão em flagrante
A sobrevivente, mesmo algemada pelo agressor, conseguiu convencê-lo de que precisava de atendimento médico urgente devido aos ferimentos. Ela prometeu não contar sobre os assassinatos e, assim, persuadiu Aaron a levá-la até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Sabará.
Uma vez dentro da UPA, ela revelou toda a verdade aos profissionais de saúde, que imediatamente acionaram a Polícia Militar. Aaron foi preso em flagrante no local, e os policiais apreenderam uma faca e um canivete com ele.
O Ministério Público do Paraná denunciou Aaron Delesse Dantas por duplo homicídio qualificado, tentativa de homicídio, tortura e stalking. O julgamento ainda não ocorreu, e ele permanece preso no Complexo Médico Penal de Curitiba. O g1 tenta localizar a defesa do acusado para obter mais informações.
O caso de Júlia Beatriz vai além de uma tragédia individual. Ele se tornou um símbolo da luta contra o feminicídio e a perseguição obsessiva, motivando ações como a entrega do diploma póstomo e mantendo viva a discussão sobre a urgência de combater a violência contra a mulher.