A Polícia Civil de Minas Gerais prendeu em flagrante, na última segunda-feira (15), um homem de 43 anos suspeito de cometer um feminicídio e depois tentar esconder o crime provocando um acidente de trânsito na cidade de Itaúna, na região Oeste do estado.
Denúncia no pedágio levou à descoberta do crime
A prisão de Alison de Araújo Mesquita ocorreu durante o velório da própria vítima, sua companheira Henay Rosa Gonçalves Amorim, de 31 anos. O caso, que inicialmente foi registrado como um acidente de trânsito, começou a ser desvendado graças ao alerta de uma funcionária de uma praça de pedágio em Itaúna.
A testemunha relatou aos seus superiores ter visto uma cena suspeita dentro de um carro. De acordo com seu depoimento, um homem, sentado no banco do passageiro, estava pilotando o veículo com os braços e uma perna sobre o corpo de uma mulher. A vítima, que ocupava o banco do motorista, aparentava estar completamente inconsciente.
Investigção aponta asfixia e contexto de violência doméstica
Após a denúncia, familiares de Henay acionaram a Polícia Civil no domingo, e as investigações foram iniciadas. O delegado responsável, João Marcos do Amaral Ferreira, determinou o monitoramento do suspeito e a realização de um novo exame de necropsia no corpo da vítima.
O segundo laudo, crucial para o caso, identificou indícios de asfixia em Henay, descartando a versão inicial de morte por acidente. A polícia também colheu depoimentos que confirmaram um histórico de violência doméstica no relacionamento do casal, que morava junto há aproximadamente sete meses em Belo Horizonte.
"Após as oitivas dessas testemunhas que indicavam com elementos fortes de ter havido feminicídio, o autor [suspeito] acabou confessando que teria agredido a vítima inclusive durante o trajeto", afirmou o delegado Ferreira.
Versão do suspeito é contestada por testemunhas e perícia
Em seu depoimento, Alison Mesquita negou que a vítima tenha morrido antes da colisão. Ele alegou que Henay teria recuperado a consciência e, em seguida, jogado o carro contra um micro-ônibus que vinha na contramão.
No entanto, essa narrativa foi contestada pela polícia. Uma testemunha que estava no micro-ônibus relatou ter checado os sinais vitais de Henay logo após o acidente e a encontrou com o corpo gelado e com sangue seco nas narinas.
"Segundo a literatura médico-legal, o corpo da pessoa começa a resfriar de uma a duas horas depois da morte", explicou o delegado, destacando que o estado do corpo não era compatível com uma morte recente no momento da batida.
O médico-legista Rodolfo Ribeiro detalhou que os sinais de asfixia só foram encontrados em um exame mais profundo da região cervical, em áreas que não fazem parte do protocolo padrão de necropsia. "Nos deparamos com uma sufusão hemorrágica na região cervical abaixo da orelha. O achado é compatível com uma constrição cervical externa", afirmou.
Busca por imagens e definição da causa da morte
Os investigadores agora trabalham para determinar se Henay já estava morta quando deixou o apartamento do casal na capital mineira. Para isso, solicitaram as imagens do circuito de segurança do prédio onde moravam.
O chefe do 7º Departamento de Polícia Civil, delegado Flávio Destro, foi enfático: "O que nos parece seguro dizer é que ele quis ocultar esse feminicídio. É forjar uma hipótese para que a morte dela fosse ocultada".
A investigação ainda tenta definir a causa exata da morte, se por trauma cranioencefálico ou asfixia. O suspeito confessou ter batido com a cabeça da vítima várias vezes dentro do carro durante o trajeto de Belo Horizonte até o local do acidente.
Alison Mesquita aguarda audiência de custódia, que definirá se sua prisão preventiva será mantida. Até o fechamento desta reportagem, o advogado de defesa do suspeito, procurado desde a tarde desta terça-feira (16), não havia retornado os contatos da reportagem.