Policial cearense vítima de feminicídio inspirada na morte da irmã
Policial é morta pelo companheiro em Eusébio, CE

A soldada Larissa Gomes da Silva, de 26 anos, foi assassinada a tiros durante uma discussão com o companheiro, também policial militar, no município de Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza. A tragédia ocorreu na tarde da última quarta-feira (3) e tem como principal suspeito o soldado Joaquim Filho, de 26 anos, que foi preso e está internado sob escolta.

Inspiração familiar e tragédia repetida

O ingresso de Larissa na Polícia Militar do Ceará, em 22 de junho de 2022, foi motivado por uma dor profunda: o feminicídio de sua irmã, Bianca, ocorrido em 3 de março de 2021, no Bairro Sapiranga, em Fortaleza. Quase três anos depois, a agente, mãe de três filhos, tornou-se vítima do mesmo tipo de crime que a inspirou a vestir a farda.

Larissa atuava na 1ª Companhia do 15º Batalhão e era descrita por colegas e superiores como uma profissional exemplar. O subcomandante da unidade, capitão Felipe Amorim, a definiu como "sonhadora, dedicada, assídua, companheira e camarada". Sua mãe, Fabíola Paiva, destacou a determinação da filha, que veio de uma comunidade e batalhou para ser aprovada no concurso, visando um futuro melhor.

Relacionamento marcado por violência e controle

Larissa conheceu Joaquim Filho durante o curso de formação da polícia. O relacionamento, que durava quatro anos, era marcado por um histórico grave de agressões e controle, conforme relatos da família da vítima.

De acordo com Fabíola, a violência era constante. "Ele já deu tiro na garrafa dela, por ela estar conversando com um colega de trabalho. Foi tiro no sofá, já rasgou o colchão dela todinho de faca, tem tiro no chão da casa dela, a porta do apartamento tá toda quebrada, até o dente dela ele já quebrou", narrou a mãe.

Em um dos episódios mais graves, Larissa sofreu coronhadas na cabeça. Ela registrou os ferimentos em fotos e enviou áudios para uma amiga relatando a agressão. Além das violências físicas, Joaquim impedia o contato da companheira com amigos e com seus três filhos, que moram com a avó.

A mãe da policial também revelou que tentou denunciar o genro, mas foi ameaçada. "Da última vez, eu disse que iria denunciar. Aí ele foi lá, bateu a foto do meu apartamento e disse que se eu denunciasse ele sabia onde eu morava", contou Fabíola.

Versão do suspeito e investigações

Joaquim Filho relatou à polícia que houve uma troca de tiros entre o casal durante a discussão. Larissa foi atingida no abdômen e no tórax, enquanto ele levou um tiro na perna. A soldada foi socorrida e levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Eusébio, onde veio a óbito. Joaquim foi transferido para o Hospital Instituto Doutor José Frota (IJF), em Fortaleza, onde seu quadro de saúde é considerado estável.

As duas armas utilizadas no confronto pertencem à corporação e foram apreendidas no local. A Polícia Militar informou que todos os elementos do caso serão encaminhados à Coordenadoria de Polícia Judiciária Militar e Disciplina para as devidas investigações. A corporação não se pronunciou sobre se o caso está sendo tratado como feminicídio ou homicídio culposo.

A tragédia deixa três crianças órfãs e expõe, mais uma vez, a cruel realidade da violência doméstica, que pode atingir qualquer pessoa, inclusive aquelas que têm a missão institucional de combater o crime.