A família da soldada da Polícia Militar do Ceará Larissa Gomes da Silva, de 26 anos, assassinada a tiros na última quarta-feira (3), relata uma nova violação. Na sexta-feira (5), policiais militares invadiram e reviraram o apartamento da vítima sem autorização judicial ou consentimento dos familiares.
Invasão irregular no condomínio
Conforme apurado pela TV Verdes Mares, um grupo de PMs foi até o condomínio onde Larissa morava. Eles solicitaram acesso ao porteiro, digitaram a senha do bloco e entraram no imóvel utilizando uma chave. A ação ocorreu sem qualquer aviso ou permissão da família, que só tomou conhecimento do fato através do funcionário do prédio.
A mãe de Larissa, Fabíola Gomes, questiona a legalidade e o propósito da ação. "O porteiro falou que era [policial], mas não era civil, que era uma polícia militar normal. E o que eles estavam aqui? Passaram uma hora aqui dentro do apartamento dela fazendo o que se eles não são de investigação?", indaga.
Imagens exclusivas mostram o quarto da soldada com o baú da cama aberto e objetos revirados. A família afirma não saber se os agentes subtraíram algum item que pudesse servir como prova no inquérito sobre a morte de Larissa.
Histórico de violência e feminicídio
O suspeito do crime é o companheiro de Larissa, o soldado Joaquim Filho, também de 26 anos, que está preso. O relacionamento do casal, que durou quatro anos e começou durante o curso de formação da PM, era marcado por um grave histórico de violência doméstica.
Segundo a mãe da vítima, Fabíola Paiva, Joaquim era extremamente agressivo e controlador. "Ele já deu tiro na garrafa dela, por ela estar conversando com um colega de trabalho. Foi tiro no sofá, já rasgou o colchão todinho de faca, tem tiro no chão da casa dela, a porta do apartamento tá toda quebrada, até o dente dela ele já quebrou", relatou.
Em uma das agressões, Larissa sofreu coronhadas na cabeça. Ela registrou os ferimentos em fotos e enviou áudios para uma amiga contando o ocorrido. Joaquim também a impedia de ver os três filhos, frutos de um relacionamento anterior, que moram com a avó.
Morte durante discussão e investigações
De acordo com a versão de Joaquim Filho à polícia, ele e Larissa trocaram tiros durante uma discussão na tarde de quarta-feira (3), em Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza. A soldada foi atingida no abdômen e no tórax e não resistiu. Joaquim foi baleado na perna e segue internado sob escolta policial.
A Polícia Militar informou que as duas armas utilizadas pertencem à corporação e foram apreendidas. O caso está sob investigação da Coordenadoria de Polícia Judiciária Militar e Disciplina. A corporação não se manifestou sobre se a morte é investigada como feminicídio ou homicídio culposo.
Larissa era mãe de três filhos e havia ingressado na PM do Ceará em junho de 2022. Colegas a descreviam como uma profissional "sonhadora, dedicada e assídua". A família, que vem de comunidade carente, destacou seu esforço para passar no concurso e construir uma carreira.
O g1 e a TV Verdes Mares tentaram contato com a defesa de Joaquim Filho, mas não obtiveram retorno até a última atualização desta reportagem. O caso levanta sérias questões sobre conduta policial, violência doméstica entre agentes de segurança e a proteção de provas em um crime de grande repercussão.