
Era uma manhã cinzenta quando a prefeitura de Campo Grande anunciou o que muita gente esperava há tempos: um novo espaço para acolher quem sofre nas sombras da violência doméstica. A nova unidade da DEAM (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher) promete virar o jogo na proteção às vítimas — e não é exagero dizer que essa mudança era mais do que necessária.
Segundo dados que deixariam qualquer um de cabelo em pé, Mato Grosso do Sul registrou aumento de 18% nos casos de agressão contra mulheres só no primeiro semestre deste ano. "Quando a gente fala em números, parece coisa de estatística. Mas cada caso é uma vida destruída", comenta a delegada Ana Lúcia, que vai comandar a nova unidade.
O que muda na prática?
Pra começar, o lugar não vai ser só mais uma delegacia. A ideia é oferecer um pacote completo de apoio:
- Atendimento psicológico 24 horas (sim, inclusive de madrugada)
- Equipe multidisciplinar treinada pra lidar com os casos mais delicados
- Sala reservada pra coleta de depoimento — sem revitimizar quem já sofreu demais
- Parceria com o Ministério Público pra agilizar medidas protetivas
"A gente sabe que muitas mulheres desistem de denunciar por medo ou por não acreditar no sistema. Queremos mudar essa história", explica a secretária municipal de Políticas para Mulheres, enquanto ajusta os óculos com gesto rápido.
Localização estratégica (e polêmica)
O novo prédio fica no coração do Jardim Los Angeles, região que concentra altos índices de violência contra a mulher. Alguns questionaram a escolha — "Não vai virar alvo fácil?". Mas a prefeitura garante: segurança reforçada e discrição total.
Ah, e pra quem acha que é só mais um gasto público... O investimento veio de verba federal específica pra políticas de gênero. Dinheiro que, diga-se de passagem, estava parado há meses.
Além das paredes novas
Enquanto os pedreiros davam os últimos retoques na pintura, uma equipe de assistentes sociais já começava o trabalho de formiguinha: visitar comunidades, espalhar informação e — quem sabe — prevenir antes que a violência aconteça.
"Não adianta só punir. Tem que educar, tem que acolher, tem que reconstruir vidas", filosofa uma das psicólogas da equipe, entre um gole de café requentado e anotações apressadas.
Campo Grande parece ter entendido, finalmente, que combater a violência doméstica exige mais do que boas intenções. Exige estrutura. Exige coragem. Exige, acima de tudo, colocar as vítimas no centro das políticas — e não só nas manchetes tristes dos jornais.