
A comoção é palpável, e a revolta, sinceramente, só aumenta. Não é todo dia que um crime bárbaro consegue paralisar uma cidade inteira com um misto de horror e uma determinação férrea por respostas. Dessa vez, foi em Salvador, e o motivo é tão antigo quanto assustadoramente atual: a violência letal contra mulheres.
Nesta quinta-feira (20), o centro da capital baiana foi tomado por uma multidão que não cabia na calçada. Não eram dezenas, eram centenas – talvez até batendo na casa do milhar, é difícil precisar quando a emoção fala mais alto. O que moveu toda essa gente? A memória de duas mulheres, jovens, cujas vidas foram interrompidas de forma brutal e, vamos combinar, covarde. A comoção nas redes sociais se transformou em corpos nas ruas, e a pressão por justiça parece, finalmente, estar ganhando um volume impossível de ignorar.
Não é só um caso, é um padrão
O detalhe mais aterrador – e que deixa qualquer um com um nó no estômago – é a frieza. As vítimas foram encontradas dentro de um carro, num bairro residencial de classe média. O veículo foi transformado em uma cena de crime que chocou até os investigadores mais experientes. A polícia não soltou todos os detalhes, mas o que vazou é suficiente para perder o sono. A sensação que fica é de que a violência doméstica, o ciúme doentio, aquela velha história de posse sobre a vida alheia, escalou para um nível de crueldade inédito.
E a pergunta que não quer calar, e que ecoou em todos os cartazes: até quando? Os organizadores do ato, um coletivo de mulheres que já estava exausto de funerais precoces, foram categóricos. Eles não veem isso como um incidente isolado, um ‘crime passional’ como a gente ainda ouve por aí. É a ponta de um iceberg gigante de desprezo pela vida das mulheres. É feminicídio, puro e simples.
O grito das ruas por justiça
O clima no protesto era pesado, mas ao mesmo tempo cheio de uma energia contagiante. Não era um lamento silencioso. Era um grito coletivo. Palavras de ordem ecoavam contra os prédios, intercaladas por momentos de silêncio absoluto – aqueles que doem mais que qualquer buzinaço. Muitas carregavam fotos de outras vítimas, um lembrete mudo de que essa tragédia tem nome, rosto e história.
As reivindicações iam além da prisão dos culpados – que, por sinal, ainda estão foragidos, o que só aumenta a angústia geral. A galera quer políticas públicas de verdade. Quer abrigos, quer delegacias especializadas que funcionem 24h, quer campanhas de conscientização que cheguem até o último beco desse país. Querem, no fim das contas, que o Estado pare de olhar para o lado e encare essa epidemia de frente.
O que aconteceu na BA não é um ‘caso isolado’. É um soco no estômago de toda a sociedade. E o recado das ruas foi claro: a paciência acabou. A busca por justiça para essas duas mulheres se tornou símbolo de uma luta muito maior, e parece que Salvador, pelo menos por uma tarde, entendeu perfeitamente a urgência.