Mãe de vítima de bullying em Cinfães muda-se por medo de represálias
Vítima de bullying perde pontas de dedos em escola

Tragédia escolar força família a mudar de cidade

A mãe do menino de nove anos que perdeu as pontas de dois dedos em um grave caso de bullying na Escola Básica de Fonte Coberta, em Cinfães, revelou estar a sofrer represálias por parte dos pais das crianças envolvidas no incidente. Nívia Estevam, de 27 anos, decidiu mudar-se com a família para uma cidade a aproximadamente uma hora de distância, temendo pela sua segurança.

Medo e insegurança em cidade pequena

Em entrevista ao g1, Nívia confessou: "Vim para Portugal à procura de uma vida melhor. Vivi no Porto por três anos e depois fui para uma região mais barata. Mas, agora, tenho de mudar tudo de novo. Estou com medo". Desde que denunciou o episódio, a família tem permanecido temporariamente na casa dos sogros, regressando à sua residência apenas para alimentar o gato de estimação, Shelbinho.

A mãe explicou os motivos da mudança: "O meu receio é que é uma cidade pequena, como se fosse uma região no interior do Brasil. As pessoas conhecem-se todas e, como os pais dos agressores têm família e amigos na região, não sei o que podem fazer. Não sei a maldade deles".

Detalhes chocantes do incidente

O caso de bullying ocorreu no dia 10 de novembro e resultou em lesões graves para a criança. Segundo Nívia, duas crianças fecharam a porta nos dedos do seu filho quando ele foi à casa de banho, impedindo-o de sair e pedir ajuda. O menino perdeu muito sangue e precisou arrastar-se por baixo da porta com os dedos já amputados.

O menor foi submetido a três horas de cirurgia no Hospital de São João, no Porto, e irá ficar com sequelas físicas e psicológicas, conforme relatou a mãe. Este episódio aconteceu depois de Nívia já ter feito outras queixas relativas a puxões de cabelo, pontapés e enforcamento, sem que nenhuma atitude fosse tomada pela escola.

Investigações em andamento

O Agrupamento de Escolas de Souselo abriu um inquérito interno para apurar os factos, segundo o diretor Carlos Silveira. Embora não tenha dado mais esclarecimentos devido ao inquérito em curso, garantiu que os socorros foram prontamente chamados e que a escola desenvolveu os procedimentos adequados.

Também a Inspeção-Geral da Educação abriu um processo de averiguações sobre o incidente, a pedido do diretor geral da Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares.

Apoio jurídico e próximos passos

Um grupo de 15 advogados já se disponibilizou para tratar do processo. Catarina Zuccaro, uma das advogadas envolvidas, revelou à Lusa que vão proceder à queixa ao Ministério Público e tratar do processo administrativo, da responsabilidade civil da escola em termos de vigilância e do processo cível.

No que respeita à questão criminal, os advogados vão estudar o que poderá ser feito, porque os envolvidos são menores de idade, mas terão de ser responsabilizados, acrescentou. Cada núcleo de advogados ficará com uma parte do caso: criminal, administrativo e cível.

Enquanto isso, Nívia prepara-se para a mudança definitiva, que será feita num único dia com ajuda de familiares, e terá de matricular o filho numa nova escola, mantendo o receio de que possam ocorrer mais situações de violência, já que, na sua opinião, "muitas regiões de Portugal são racistas e xenófobas".