Diretor de escola sugere surra para acalmar criança autista em Bebedouro
Um caso grave de maus-tratos contra crianças autistas está sendo investigado na Escola Municipal Professor Stélio Machado Loureiro, localizada no centro de Bebedouro, no interior de São Paulo. Duas mães registraram boletim de ocorrência relatando agressões físicas e psicológicas contra seus filhos, ambos diagnosticados com autismo.
Rosimeire Cristina Cardoso de Sousa, mãe de uma menina de 10 anos, revelou à EPTV, afiliada da TV Globo, que o diretor da unidade educacional chegou a sugerir que ela batesse na própria filha como método para acalmá-la. "Eu cheguei à porta da sala de aula com a minha filha, e ele [o diretor] olhou e falou 'olha mãe, tem uma salinha ali, por que você não leva ela e dá uma surra nela, que você vai ver como ela vai ficar boazinha'", contou a mãe, ainda consternada com a situação.
Flagrante de agressão e gritos de socorro
Rosimeire explica que já desconfiava que algo errado estava acontecendo com sua filha na escola. No mesmo dia em que recebeu a absurda sugestão do diretor, a mãe afirma ter ouvido a filha gritar por socorro dentro da instituição. Ao adentrar o prédio escolar, testemunhou o diretor puxando a menina para fora da sala de aula enquanto gritava com ela.
"No que entrei, vi ele puxando ela de dentro da sala de aula e gritando com ela, 'você vai ficar aqui no pátio'", descreveu Rosimeire. Apesar da tentativa do diretor de impedir sua entrada, a mãe resgatou a filha e a levou para casa imediatamente.
Após o episódio traumático, a menina foi levada a um psiquiatra, que recomendou seu afastamento das atividades escolares até o final do ano letivo. Rosimeire manifestou desejo de manter a filha na mesma escola, mas apenas se todos os funcionários envolvidos nos maus-tratos forem afastados de suas funções.
Outro caso de discriminação na mesma escola
Neiva Santos Paes, mãe de um menino autista de 6 anos que também estudava na mesma instituição, descobriu há aproximadamente um mês que seu filho estava sendo isolado dos colegas e sofrendo agressões por parte de funcionários. "Ele era proibido de participar da aula de leitura, era colocado dentro de uma sala vazia para não incomodar", denunciou a mãe.
Segundo Neiva, a situação era ainda mais grave: "O que era para ser a sala da inclusão, na verdade, era uma sala vazia. Era levado para o parque às 14h para ficar no parque e não incomodar. Ele era proibido de pegar água para não quebrar a torneira, proibido de comer para não sujar". A mãe relatou ainda que uma cozinheira chegou a jogar tomate no rosto da criança.
Como o menino é não verbal, Neiva começou a desconfiar dos maus-tratos quando percebeu a resistência do filho em ir para a escola. "Ele arrancou o cabelo, chorava demais para entrar na escola. Tinha dia que tinha de vir duas auxiliares para ajudar a tirar ele do carro, porque ele não queria entrar [na escola]". Diante da gravidade da situação, a família decidiu transferir a criança para outra unidade de ensino.
Funcionária confirma agressões e relata ameaças
Aline Fernandes, que trabalhou como auxiliar docente na escola por oito meses, confirmou ter testemunhado as agressões enquanto atuava no local. "Ele [o filho de Neiva] estava sofrendo muita discriminação, maus-tratos. Outras crianças também, agressão física e verbal, aquilo começou a me deixar muito triste", declarou a ex-funcionária.
Aline revelou que, ao manifestar sua intenção de denunciar os fatos às famílias das crianças, foi ameaçada de morte e começou a sofrer perseguição dentro da escola. Ela também contou que uma das crianças era chamada de "insuportável" por membros da direção.
"É uma criança que não fala, é um menino muito amoroso, extremamente carinhoso. Eu sei que é difícil, mas é só a gente ter paciência, essas crianças precisam de paciência, de amor", defendeu a ex-funcionária, que acabou deixando o emprego devido ao ambiente hostil.
Processo administrativo e busca por justiça
Em nota oficial, a Prefeitura de Bebedouro informou que a Secretaria de Educação abriu um processo administrativo para apurar os fatos. Os funcionários envolvidos já foram ouvidos e toda a documentação foi encaminhada à Comissão Processante, que irá analisar o caso detalhadamente.
Kézia Ribeiro, advogada que representa as famílias, afirmou que já protocolou o pedido de afastamento dos envolvidos na esfera administrativa. Na esfera penal, a defesa aguarda o oferecimento da denúncia. "A defesa espera que esse caso seja o início de uma política municipal que vise a proteção dessas crianças", declarou a profissional.
As duas mães afirmam que outras crianças autistas também teriam sofrido maus-tratos na mesma instituição de ensino, levantando preocupações sobre a capacitação da equipe para lidar com estudantes com necessidades especiais.