
Não é segredo que a internet pode ser um terreno fértil para ideias perigosas — e um fenômeno que preocupa especialistas ganha força nos cantos mais sombrios da web. Comunidades autointituladas 'machosfera' estão refinando técnicas para transformar descontentamentos pessoais em ódio generalizado contra mulheres.
Da frustração ao radicalismo
O modus operandi? Começa com iscas aparentemente inofensivas: memes 'engraçados', teorias sobre 'biologia redpill' e promessas de autoaperfeiçoamento masculino. Mas o buraco é mais embaixo. Em semanas, muitos garotos — alguns mal saíram da adolescência — são levados a acreditar que mulheres são inimigas a serem derrotadas.
"É um processo de lavagem cerebral digital", alerta a psicóloga Fernanda Costa, que estuda o fenômeno há três anos. "Eles capitalizam inseguranças normais da idade e as transformam em combustível para uma guerra imaginária."
As armas da manipulação
- Gamificação do ódio: Sistemas de ranking em fóruns que recompensam postagens misóginas
- Jargão pseudocientífico: Termos como 'hypergamia' e 'valor SMV' para dar aura de legitimidade
- Isolamento social: Incentivo a cortar laços com familiares e amigas mulheres
Curiosamente, muitos desses grupos se apresentam como 'comunidades de apoio masculino' — uma fachada que, segundo pesquisadores, ajuda a atrair novos membros. "É como se vendessem remédio para doença que eles mesmos causam", compara o sociólogo Raul Mendes.
O preço humano
Histórias como a de Lucas (nome alterado), que perdeu o relacionamento de 5 anos após mergulhar nesse universo, se multiplicam. "Eu via traição onde não existia", admite ele, hoje em terapia. "Quase perdi meu emprego por causa dessa paranoia."
Especialistas apontam que o problema vai além da misoginia — é uma crise de saúde mental disfarçada. Homens isolados, muitos já vulneráveis, são presas fáceis para narrativas que transformam solidão em raiva.
E o pior? Essas comunidades estão ficando mais sofisticadas. Algumas já usam IA para criar conteúdo hiperpersonalizado, identificando e explorando fraquezas específicas de cada usuário. Assustador, não?