Jovem com esquizofrenia morre ao entrar em recinto de leoa em João Pessoa
Jovem morre em zoológico após invadir recinto de leoa

Um jovem de 19 anos perdeu a vida de forma trágica no último domingo (30), após invadir o recinto de uma leoa no Parque Arruda Câmara, conhecido como Bica, em João Pessoa. O caso, que chocou visitantes e foi registrado em vídeo, expõe uma grave falha no sistema de proteção a jovens com problemas de saúde mental que atingem a maioridade.

Falta de acolhimento após os 18 anos

A conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhava Gerson de Melo Machado desde a infância, revelou que o jovem tinha diagnóstico de esquizofrenia. Em entrevista, ela foi enfática ao apontar o descaso do Estado com casos como o dele. "Depois que ele fez 18 anos, ele foi entregue à própria sorte. Saiu do acolhimento institucional e entrou no sistema prisional", lamentou Verônica.

Ela explicou que, em João Pessoa, não há uma estrutura adequada para receber jovens que, como Gerson, precisam de suporte após saírem do abrigo. "Essas crianças e adolescentes vivem dentro do acolhimento institucional. Quando fazem 18 anos, ou então, numa excepcionalidade, aos 21, eles precisam sair", disse. A conselheira defende a criação de um albergue de transição, modelo que já existe em outras cidades brasileiras, para trabalhar a autonomia com acompanhamento próximo.

O laudo confirmando a esquizofrenia de Gerson só foi emitido após sua maioridade, quando ele já estava no sistema socioeducativo. "Esquizofrenia a gente já sabia que era o que Gerson tinha, porque ele ouvia vozes. Só quando ele entrou no sistema socioeducativo que o laudo apareceu, mas aí já era tarde demais", afirmou Verônica Oliveira.

História de vida marcada por abandono e fascínio por leões

Gerson tinha uma história familiar complexa. Ele e seus quatro irmãos foram retirados da guarda da mãe pela Justiça, pois ela sofre de esquizofrenia grave. As avós também tinham transtornos psiquiátricos. Enquanto os irmãos foram adotados, Gerson não foi, pois já apresentava sinais de problemas psiquiátricos na infância.

Apaixonado por animais, o jovem nutria um sonho particular. "Ele tinha falas desde muito pequeno de que ia para a África, para um safári, porque ele ia domar os leões", contou a conselheira. Verônica ainda lembrou que, em uma ocasião, Gerson só aceitou ser acolhido sob a condição de levar seu cachorro junto.

Sem noção clara do perigo, Gerson era frequentemente manipulado por outras pessoas para a prática de pequenos delitos, acumulando passagens pela polícia. A última ocorreu há uma semana, quando atirou uma pedra em uma viatura da Polícia Militar.

Como aconteceu a invasão fatal

Para chegar até a leoa, o jovem realizou uma escalada perigosa. Ele superou uma parede de mais de 6 metros de altura, passou por grades de proteção e usou uma árvore como apoio para descer diretamente no recinto do animal. Vídeos feitos por visitantes capturaram o momento da invasão e o subsequente ataque da leoa.

O zoológico estava aberto ao público no momento do incidente. Após o ataque, o Parque Arruda Câmara (Bica) foi fechado e as visitas estão suspensas indefinidamente, sem previsão de reabertura.

O caso vai além da tragédia pontual e levanta um debate urgente sobre a rede de proteção a jovens adultos com transtornos mentais, destacando a necessidade crítica de políticas públicas de acolhimento que evitem que histórias como a de Gerson se repitam.