Jovem com esquizofrenia é morto por leoa após invadir jaula em zoológico da PB
Homem com esquizofrenia morto por leoa em zoológico da PB

Um jovem de 19 anos morreu após invadir o recinto de uma leoa no zoológico do Parque Arruda Câmara, conhecido como Bica, em João Pessoa, na Paraíba. O fato ocorreu no domingo, dia 30 de novembro. A vítima, Gerson de Melo Machado, tinha diagnóstico de esquizofrenia e já era acompanhado pela Justiça, que havia determinado sua internação em uma instituição de longa permanência.

Decisão judicial e tentativa de tratamento

Em uma decisão de 30 de outubro, o juiz Rodrigo Marques de Silva Lima considerou Gerson inimputável devido à sua condição de saúde mental. O magistrado avaliou que o tratamento ambulatorial era insuficiente para conter seu "ímpeto perigoso" e garantir a eficácia do cuidado psiquiátrico. Por isso, determinou a internação em um Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP).

A juíza Conceição Marsicano também confirmou à TV Cabo Branco que havia determinado a mesma medida. Ela explicou que o jovem foi encaminhado para um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), mas que a fiscalização e o acompanhamento especializado seriam de responsabilidade do órgão técnico competente.

Falhas no sistema de acolhimento

Janaína D'emery, diretora do Caps Caminhar, onde Gerson era atendido, detalhou as modalidades de cuidado oferecidas. Ela afirmou que os CAPS não são moradias, mas oferecem serviços de atenção-dia ou intensivos. No caso de Gerson, ele se recusava a ficar no regime 24 horas, optando pelo intensivo, que permitia sua ida e vinda após as atividades e medicação.

O promotor Leonardo Pereira, da Promotoria de Saúde do MPPB, destacou que a orientação para casos como esse é o encaminhamento para uma residência terapêutica. A Prefeitura de João Pessoa informou que existem apenas três casas desse tipo na cidade, destinadas a ex-internos de hospitais psiquiátricos.

A terapeuta ocupacional Thaís Munholi, especialista em saúde mental, apontou os principais desafios da Rede de Atenção Psicossocial (Raps):

  • Quantidade insuficiente de residências terapêuticas e CAPS.
  • Falta de profissionais qualificados em diversas especialidades.
  • Localização dos serviços, muitas vezes distante das periferias.
  • Ausência de serviços estruturados de acolhimento à crise, como o Pronto Atendimento em Saúde Mental.

Histórico de vulnerabilidade e abandono

A conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou Gerson por anos, revelou um passado marcado por abandono e falhas no sistema. A mãe do jovem sofre de esquizofrenia grave, o que levou a Justiça a retirar a guarda dos cinco filhos. Enquanto os irmãos foram adotados, Gerson, que já apresentava sintomas psiquiátricos, não encontrou uma família adotiva.

Ele permaneceu sob responsabilidade do Conselho Tutelar até a maioridade. "Depois que ele fez 18 anos, ele foi entregue à própria sorte. Saiu do acolhimento institucional e entrou no sistema prisional", lamentou a conselheira. Ela criticou a ausência de albergues na cidade que pudessem oferecer autonomia com acompanhamento próximo.

O laudo confirmando a esquizofrenia só foi emitido quando Gerson já estava no sistema socioeducativo, após ser preso por danificar caixas eletrônicos e atirar uma pedra em uma viatura policial em 24 de novembro. "A gente já sabia que era esquizofrenia, porque ele ouvia vozes. Só quando ele entrou no sistema socioeducativo que o laudo apareceu, mas aí já era tarde demais", completou Verônica.

A tragédia no zoológico de João Pessoa expõe, portanto, não apenas um incidente isolado, mas uma sequência de falhas no sistema de saúde mental e proteção social, que culminou na morte prematura de um jovem em situação de extrema vulnerabilidade.