
Era pra ser mais uma tarde qualquer no Jardim Iguaçu, bairro pacato de Nova Iguaçu. O que ninguém – absolutamente ninguém – podia prever era que o barulho seco de tiros iria transformar para sempre a vida de uma família. Uma sequência de disparos, desses que a gente ouve e logo espera que seja rojão, mas não era.
No meio do fogo cruzado entre bandidos e a polícia, por volta das 15h dessa terça-feira (20), uma bala perdida – expressionzinha miserável que tenta dar nome ao inominável – achou o pequeno Carlos Eduardo Santos de Oliveira. Cinco anos. Ainda tava aprendendo a amarrar o cadarço do tênis.
O caos foi instantâneo. A mãe, em pânico, gritando por ajuda. Os vizinhos, aquela correria desesperada tentando levar o menino pro hospital. No Pronto-Socorro Municipal de Nova Iguaçu, os médicos lutaram – Deus sabe que lutaram – mas não teve jeito. O tiro foi fatal. Às 16h20, oficializaram o óbito.
O Que Sobrou: Vazio e Perguntas Sem Resposta
A casa da família, que antes era cheia da algazarra de criança, agora é um silêncio pesado, cortado só pelo chão da mãe. O pai, que não tá aguentando a dor, diz que exige justiça. Mas que justiça consegue devolver um filho de cinco anos?
A Polícia Civil já abriu inquérito, óbvio. Vão investigar, colher imagens de câmera, tentar descobrir de onde veio o tiro assassino. Mas a gente sabe como essas coisas funcionam – ou não funcionam – nesse país. Vira mais um número na estatística macabra da violência urbana.
Não é Acidente, é Escolha
E aqui vem o ponto que ninguém quer encarar de frente: bala perdida não existe. Toda bala tem dono, tem destino e, quando mata uma criança, tem culpado. Seja quem puxou o gatilho, seja quem tá há anos negligenciando a segurança pública nas periferias.
Enquanto isso, a que ponto a gente chegou? Criança não pode mais brincar no quintal de casa sem correr o risco de ser atingida por um projétil? O que estamos fazendo, como sociedade, que normalizamos isso?
O caso do Carlos Eduardo é mais um – infelizmente, só mais um – na lista interminável de vidas inocentes interrompidas pela violência armada. E a pergunta que fica, ecoando nas ruas de Nova Iguaçu e em todo o Brasil, é: quantas crianças precisam morrer antes de algo mudar de verdade?