
Os números chegam como um soco no estômago. Dá até vontade de desviar o olhar, mas a realidade insiste em gritar. Sabe aquela sensação de que algumas coisas deviam ser diferentes? Pois é, no Acre a situação chegou num ponto que beira o inacreditável.
De janeiro a julho deste ano — sim, apenas sete meses — o estado contabilizou mais de 600 casos de estupro. Pare um minuto para digerir isso. Seiscentas vidas marcadas por uma violência que não deveria caber em nenhum lugar, muito menos em números tão assustadores.
O retrato da vulnerabilidade
Mas o que realmente corta fundo — e aqui a gente precisa respirar antes de continuar — é que 80% dessas vítimas são pessoas em situação de vulnerabilidade. Não são números, são rostos, histórias, vidas que já carregavam tantos outros pesos antes dessa violência terrível.
Pense bem: a cada dez casos, oito envolvem alguém que já estava à margem, desprotegido, invisível para muita gente. É como se a violência escolhesse suas vítimas onde sabe que o eco será mais fraco, onde as vozes têm menos alcance.
O perfil que ninguém quer ver
Mulheres, crianças, adolescentes, idosos, pessoas com deficiência — a vulnerabilidade não escolhe gênero ou idade, mas escolhe sim os mais frágeis. E no Acre, essa seleção perversa está acontecendo diariamente, enquanto a gente discute coisas que, francamente, parecem tão menores diante de uma tragédia dessas.
Os dados vêm da Secretaria de Segurança Pública do estado, que divulgou essas informações que, convenhamos, deveriam causar muito mais comoção do que causam. Às vezes me pergunto se nos acostumamos com a dor alheia, se notícias como essas já não nos atingem como deveriam.
E as soluções?
Bom, aí é que a coisa complica — ou simplifica, depende de como você enxerga. Existem políticas públicas? Existem. Funcionam? Parece que não tão bem quanto precisariam. A delegada Patrícia dos Santos, que atua na Delegacia da Mulher em Rio Branco, comenta com aquela voz cansada de quem vê o pior dia após dia:
"A gente recebe essas vítimas, tenta fazer o possível, mas é como enxugar gelo. Muitas chegam aqui já tão machucadas pela vida que a violência sexual é só mais um capítulo numa história de abandono."
E ela tem razão. Como esperar que alguém denuncie, que busque ajuda, que confie no sistema, quando o sistema parece ter falhado tantas vezes antes?
Um chamado à ação
O que fazer então? Cruzar os braços? Claro que não. A primeira coisa é não naturalizar esses números. Seiscentos casos em sete meses não é normal, não pode ser normal. É uma epidemia de violência que está destruindo vidas enquanto a gente discute amenidades.
Precisamos — e aqui falo como alguém que acredita na mudança — de mais do que discursos. Precisamos de ações concretas: mais delegacias especializadas, melhor acolhimento psicológico, políticas de prevenção que cheguem até as comunidades mais distantes, educação sexual que ensine sobre consentimento desde cedo.
Porque no fim das contas, o que esses números mostram não é só a crueldade de alguns, mas o fracasso de muitos. E mudar isso — acredite — é responsabilidade de todos nós.