Roubos a farmácias em Campinas disparam 24,6% em 2025, impulsionados por remédios emagrecedores
Roubos a farmácias em Campinas sobem 24,6% em 2025

A região de Campinas, no interior de São Paulo, enfrenta uma onda preocupante de criminalidade direcionada a estabelecimentos farmacêuticos. Dados oficiais revelam um salto significativo no número de ocorrências, colocando em alerta donos de farmácias, funcionários e autoridades de segurança.

Aumento expressivo nos registros criminais

Conforme levantamento da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, os roubos e furtos a farmácias cresceram 24,6% nos dez primeiros meses de 2025 na área de atuação do Departamento de Polícia Judiciária do Interior 2 (Deinter 2), com sede em Campinas. O balanço aponta 228 ocorrências entre janeiro e outubro deste ano, contra 183 registros no mesmo período de 2024.

O município de Campinas, epicentro da região, reflete essa tendência negativa. Na cidade, o número de casos saltou de 53 para 65, representando um aumento de 22,65%. Bairros como Cambuí (9 ocorrências), Centro (4) e Taquaral (4) aparecem entre os mais afetados.

Alvo principal: medicamentos de alto valor no mercado paralelo

O especialista em segurança Antonio Carlos Bellini Júnior explica que a escalada da violência está intimamente ligada ao roubo de produtos específicos. "Canetas emagrecedoras, que possuem alto valor agregado, e medicamentos controlados" são os itens mais visados pelos criminosos, segundo sua análise.

Bellini cita exemplos como o Mounjaro, usado no tratamento de diabetes tipo 2, que pode custar até R$ 1.700 por caixa, e o Ozempic, com preço médio de R$ 1.000. A alta demanda por esses remédios, também utilizados off-label para emagrecimento, alimenta um mercado paralelo e ilegal em expansão.

"Há sinais de um mercado paralelo e ilegal crescente especialmente relacionado às canetas emagrecedoras", alerta o especialista. Para combater o problema, ele defende uma ação integrada que inclua policiamento ostensivo da Polícia Militar e investigações precisas da Polícia Civil para desarticular não só os autores dos crimes, mas também os receptadores da mercadoria roubada.

Impacto humano e negligência corporativa

Além dos números, a violência deixa marcas profundas nos trabalhadores do setor. Uma farmacêutica que atua em uma drogaria de Campinas e preferiu não se identificar relata um clima de medo constante. Seu local de trabalho foi assaltado pelo menos três vezes pelos mesmos dois indivíduos, sempre no final do expediente, por volta das 23h.

"Eles entram, abordam quem está lá no balcão primeiro, mostram a arma e falam que é um assalto... com a arma apontada para a gente, senão vai matar a gente", desabafa a profissional. Ela detalha que, mesmo após os traumas, a rede farmacêutica não implementou medidas de segurança adequadas, como botão de pânico ou vigilância, e trata os casos com descaso.

Funcionários são obrigados a trabalhar normalmente no dia seguinte, sob ameaça de desconto salarial, e não recebem apoio psicológico. Em uma das ocasiões, celulares pessoais foram levados, e a empresa se recusou a ajudar, alegando que os aparelhos "não deveriam estar com eles no bolso".

Renata Gonçalves, representante do Sindicato dos Farmacêuticos do Estado de São Paulo, reforça a gravidade da situação. Ela associa o aumento dos roubos à valorização dos remédios emagrecedores e cobra que as empresas reconheçam esses episódios como acidentes de trabalho, garantindo suporte adequado aos funcionários vitimados.

A área da Deinter 2 abrange 38 municípios, incluindo, além de Campinas, cidades como Americana, Arthur Nogueira, Cosmópolis, Holambra, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Jundiaí, Paulínia, Valinhos e Vinhedo, indicando que o problema tem caráter regional.