Pesquisa revela: medo da violência molda voto em 2026
Medo da violência influencia eleição presidencial 2026

O peso do medo na decisão do voto

Uma pesquisa detalhada do Projeto Plaza Publica, realizada em sete cidades de seis estados brasileiros, revela como a insegurança e o temor da violência estão moldando o sentimento do eleitorado e podem influenciar a campanha presidencial do próximo ano. O estudo, baseado em entrevistas profundas, expõe a rotina de apreensão que acompanha os brasileiros no seu dia a dia.

A realidade do medo constante

Os entrevistados compartilharam seus hábitos de precaução, como o cuidado com vidros abaixados e travas nas portas dos carros, o temor de serem assaltados e perderem pertences como correntes, alianças ou celulares, e até mesmo o costume de rezar ao chegarem em casa em segurança. Eduardo Sincofsky, psicólogo e diretor do Projeto Plaza Publica, explica que se trata de "um estado psicológico de atenção latente o tempo todo, que muda as rotinas".

As entrevistas ajudam a compreender a reação de aprovação massiva captada nas pesquisas quantitativas sobre a operação policial no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortos nos morros do Alemão e da Penha. Mesmo entre eleitores petistas, não houve empatia pelos traficantes mortos, demonstrando como o medo cotidiano criou uma espécie de blindagem emocional.

Críticas às declarações presidenciais e expectativas

As declarações do presidente Lula da Silva de que "os traficantes são vítimas dos usuários" foram amplamente rejeitadas, sendo compreendidas mesmo por seus eleitores como uma falta de empatia com quem sofre com o tráfico. "Não há vítimas entre os traficantes", afirmou um dos entrevistados, enquanto outros cobram um posicionamento mais claro do presidente contra criminosos.

Passadas três semanas da operação no Rio, a ação é vista mais como simbólica do que efetiva no combate às facções. "Os bandidos precisam ter medo", disse outro participante da pesquisa, enquanto um comparou o sentimento de catarse com "aqueles vídeos que aparecem de um cara atropelando o bandido: um sentimento de vingança".

Quando apresentados a cartões que representavam seus sentimentos sobre segurança pública, alguns escolheram a imagem de uma pessoa amarrada (sensação de refém e impotência), enquanto outros se identificaram com alguém sentado com cara triste (sensação de acuado buscando refúgio).

Limites do tema na campanha e rejeição ao modelo Bukele

Apesar da catarse com a operação no Rio, Sincofsky alerta que este não deve ser um ponto de inflexão decisivo para a campanha presidencial. Os eleitores têm bem dividida a responsabilidade sobre a segurança, cobrando mais dos governadores do que do presidente. "Ninguém vai dizer aqui em Belo Horizonte que a segurança está melhor ou pior porque o Lula fez isso ou aquilo", explicou um entrevistado.

Enquanto a segurança ostensiva nas ruas é atribuída aos governadores, os entrevistados esperam do governo federal mais ações que asfixiem financeiramente as facções criminosas, como a Operação Carbono Oculto.

O estudo também testou a reação ao discurso do ditador salvadorenho Nayib Bukele, que reduziu drasticamente os índices de homicídio com prisões em massa sem julgamento. O resultado não é animador para parte da direita brasileira que o usa como modelo: eleitores independentes veem a experiência de El Salvador como uma ditadura mascarada, inviável no Brasil e com custo alto demais para as liberdades individuais. Somente os eleitores bolsonaristas mais radicais apoiam o modelo.

Fora do Rio de Janeiro, questões como inflação, emprego, escala 6×1, saúde e educação são temas tão prioritários para a campanha presidencial quanto a segurança pública, indicando que o tema da segurança, embora importante, não dominará sozinho o debate eleitoral.