A cidade de Bauru, no interior de São Paulo, enfrenta uma epidemia de furtos de fios e cabos que está prejudicando diretamente a população. Dados oficiais revelam um salto alarmante nesse tipo de crime, que paralisa serviços básicos e causa prejuízos a instituições e moradores.
Aumento recorde e impacto social
Segundo números da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP), Bauru registrou 734 boletins de ocorrência de furto e roubo de fios até setembro de 2025. Esse número representa um aumento expressivo de 43,92% em comparação com o mesmo período do ano anterior. As imagens de câmeras de segurança, obtidas pela TV TEM entre 2024 e 2025, mostram a ação dos criminosos em diversos pontos da cidade.
As consequências vão muito além do prejuízo material. O grupo Amigas do Peito, que oferece assistência a mulheres com câncer de mama, foi uma das vítimas nas primeiras semanas de novembro. A presidente Alaise Pinheiro dos Santos relatou o susto ao ser alertada pelo sistema de segurança sobre a invasão. Com a fiação de energia roubada, a instituição precisou suspender os atendimentos e perdeu todos os alimentos que estavam refrigerados.
"A gente não imagina que vai ser com a gente. Agora, com certeza, a gente vai reforçar a segurança aqui, e isso significa mais gastos para nós", lamentou Alaise.
Alvo errado e prejuízo coletivo
Embora o principal alvo dos ladrões seja o cobre, presente em fios de energia, muitos acabam levando outros materiais por engano. É o caso dos cabos de fibra óptica, que não possuem valor comercial para os receptadores, mas cujo furto causa transtornos enormes.
William Peres, diretor executivo de uma empresa de internet que atua na cidade, explica que a reposição desses cabos virou uma das principais atividades dos técnicos. "Eu brinco que isso aqui não serve nem para varal. Infelizmente, o serviço é afetado pelo vandalismo de pessoas que confundem o material, rompem os cabos e deixam a população sem internet, um item que hoje é essencial", afirmou.
O problema também já comprometeu o abastecimento de água. Weber Soares Vieira, diretor da Divisão de Produção do Departamento de Água e Esgoto (DAE), lembra que, até 2022, a média era de um furto por semana nos poços da cidade. "A situação era crítica. Em muitos casos, a pessoa chegava a ficar um dia sem água", recordou.
Combate ao crime: da segurança à nova lei
Para frear os furtos, o DAE investiu em um robusto sistema de monitoramento. Foram instaladas 470 novas câmeras em 80 unidades, com barreiras virtuais e alarmes sonoros disparados remotamente para afugentar invasores. A medida foi eficaz: "Desde a implantação, praticamente zeraram as ocorrências de furto. Existem tentativas, mas elas são coibidas pelo sistema", explicou Weber Vieira.
A Polícia Civil, por sua vez, aponta que o aumento dos crimes está diretamente ligado à facilidade de venda do material. O delegado Alexandre Protopsaltis detalha a estratégia: "Esse material só é furtado porque alguém está comprando. Para interromper essa cadeia, temos focado os esforços principalmente em identificar quais são os estabelecimentos que se valem disso e acabam lucrando muito".
Para atacar essa ponta final, a Câmara Municipal de Bauru aprovou, na segunda-feira, dia 1º, um projeto de lei que aumenta a regulamentação sobre os ferros-velhos. A proposta, que aguarda a sanção da prefeita Suéllen Rosim (PSD), estabelece que:
- Os estabelecimentos que lidam com material descartado funcionem apenas das 8h às 18h.
- Caso as autoridades comprovem a posse de produtos de origem criminosa, o alvará de funcionamento será suspenso imediatamente.
A medida busca criar um mecanismo legal mais forte para coibir a receptação e, consequentemente, desestimular os furtos que tanto afetam a qualidade de vida em Bauru.