Um levantamento divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública nesta quarta-feira (19) revela um cenário alarmante: as facções criminosas expandiram seu território e agora atuam em 45% dos municípios da Amazônia Legal. O estudo Cartografias da Violência na Amazônia, em sua quarta edição, mostra que o crime organizado avança rapidamente pela região.
Amapá: epicentro da violência na Amazônia
O estado do Amapá emerge como um dos mais críticos neste panorama de violência. As organizações criminosas estão presentes em 62,5% dos municípios amapaenses, com destaque para Macapá, Santana e Calçoene, que concentram os maiores índices de homicídios do estado.
A pesquisa aponta que a localização geográfica do Amapá, próxima a fronteiras internacionais e cortada por rotas estratégicas como a BR-156, facilita atividades ilícitas como tráfico de drogas, contrabando e outros crimes transfronteiriços.
Em 2024, o Amapá registrou 45,1 mortes violentas por 100 mil habitantes, mesmo após uma redução de 30,6% em relação ao ano anterior. Apesar da queda, o estado continua entre os mais violentos do Brasil.
Dominância territorial das facções
Macapá e Santana, que juntas concentram 75% da população amapaense, responderam por quase 80% das mortes violentas intencionais. Enquanto Macapá funciona como centro administrativo, Santana se destaca pela infraestrutura portuária e logística, características que, segundo o FBSP, facilitam crimes transfronteiriços.
Já Calçoene se consolidou como importante corredor do tráfico, sendo disputada por facções locais e nacionais. A cidade é atravessada pela BR-156, que liga Macapá ao Oiapoque, rota estratégica para o narcotráfico.
Expansão do crime organizado na região
O estudo identificou 17 grupos criminosos atuando na Amazônia Legal, com destaque para o Comando Vermelho (CV), que domina parte do território amapaense e está presente em 202 cidades da região - um crescimento de 123% desde 2023.
O Primeiro Comando da Capital (PCC) atua em 90 municípios, enquanto facções locais como a Família Terror do Amapá (FTA) e a União Criminosa do Amapá (UCA) ampliam seu controle sobre rotas de tráfico e atividades ilegais.
David Marques, gerente de projetos do FBSP, explica que a presença maior do Comando Vermelho se deve à sua descentralização, enquanto o PCC centraliza decisões em seus líderes em São Paulo. "O Comando Vermelho tem interesse pelo atacado também e, para isso, é muito importante o controle territorial", afirma o pesquisador.
Panorama por estados da Amazônia Legal
A presença das facções varia significativamente entre os estados da região:
- Acre: 100% dos municípios (22 de 22)
- Roraima: 80% dos municípios (13 de 15)
- Amapá: 62,5% dos municípios (10 de 16)
- Pará: 63% dos municípios (91 de 144)
- Mato Grosso: 65% dos municípios (92 de 141)
O relatório também aponta que crimes locais, como o garimpo ilegal, contribuíram para a expansão dos grupos criminosos na Amazônia. A pesquisa considerou as taxas de mortes violentas intencionais dos últimos três anos para analisar a violência na região.