Jorge Pontes: Brasil exige plano concreto contra crise de segurança
Especialista critica medidas protelatórias na segurança pública

O especialista em segurança pública Jorge Pontes, ex-delegado da Polícia Federal e formado pela FBI National Academy, emitiu um alerta contundente sobre a crise de segurança que assola o Brasil há décadas. Em análise publicada em 17 de novembro de 2025, o também co-autor do livro "Crime.Gov - Quando Corrupção e Governo se Misturam" aponta que a paciência da sociedade brasileira se esgotou completamente.

Esgotamento social e críticas às medidas governamentais

Segundo Pontes, os cidadãos brasileiros perderam qualquer expectativa positiva em relação às autoridades dos três Poderes, tanto no nível federal quanto estadual. O especialista é enfático ao afirmar que o tempo passou, o problema se agravou e as consequências se aprofundaram, chegando a um ponto insustentável.

A sociedade não ficará satisfeita apenas com a aprovação de leis que basicamente aumentam penas e estabelecem perdimento de bens apreendidos. Pontes utiliza uma metáfora impactante para descrever essa situação: "Será como uma montanha parindo um rato".

O cansaço social é evidente diante das repetidas reações do Presidente da República, que a cada crise determina a formação de uma nova comissão governamental ou convoca reuniões emergenciais com governadores. Essas providências velhas, vazias e sem concretude não são mais toleradas pela população.

Polarização política e distrações perigosas

Jorge Pontes alerta que a polarização política do país atingiu seu limite nos debates sobre segurança pública. O cabo de guerra entre os que defendem que "bandido bom é bandido morto" e os que veem criminosos como meras vítimas da sociedade não contribui para soluções efetivas.

O especialista também critica propostas que classifica como puramente midiáticas e distrativas, citando especificamente a sugestão de criação de uma agência antimáfia. Pontes argumenta que o Brasil já conta com a Polícia Federal e sua Diretoria de Combate ao Crime Organizado, que possui capacidade instalada e trabalha com expertise desde 2003.

"Esse tipo de projeto só serve para atrasar as medidas que realmente importam, além de promover duplicação de esforços", afirma o ex-delegado.

Plano integrado e ações técnicas como solução

Para enfrentar as ameaças da macrocriminalidade, Pontes defende a implementação de um plano amplo e integrado, composto por pelo menos uma dezena de pequenos projetos, atividades e ações cronogramadas. Este planejamento deve ser organizado e distribuído ao longo de um período de tempo definido, incluindo trabalho prévio de inteligência e investigações policiais.

O plano deve envolver de forma coordenada:

  • Polícias Federal e Rodoviária Federal
  • Polícias civis e militares das 27 unidades da federação
  • Ministério Público Federal e ministérios públicos estaduais
  • Poder Judiciário
  • Outros órgãos relevantes

Pontes ressalta que o planejamento deve ter diversas "frentes", não se limitando à segurança pública, mas abrangendo outras pastas governamentais que precisam elaborar, adequar-se e reforçar suas políticas com o conceito de "anticrime by design".

"Algumas dessas frentes necessitarão ações e resultados imediatos, enquanto outras impactarão mais a médio e longo prazo", explica o especialista.

Liderança técnica e esperança na CPI do Crime Organizado

Um ponto crucial destacado por Jorge Pontes é a necessidade de envolver operadores com perfil técnico - predominantemente profissionais de law enforcement - em vez de políticos preocupados em agradar seus redutos eleitorais ou com os olhos nas eleições de 2026.

Entre as raras exceções no cenário político, Pontes destaca o trabalho do Senador Alessandro Vieira (MDB-SE), autor da iniciativa da CPI do Crime Organizado e recentemente nomeado seu relator. O especialista manifesta otimismo em relação a esta Comissão Parlamentar de Inquérito, considerando sua amplitude proposta e lideranças.

O ex-delegado conclui com uma reflexão importante: "Sabemos que não há soluções e nem possibilidade de transformação fora da política, mas, nessa crise da criminalidade, com raras exceções, a impressão que a maioria dos políticos estão nos passando é que mais atrapalham do que ajudam".

A análise de Jorge Pontes, que também foi membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon, França, serve como um alerta urgente para que o Brasil enfrente definitivamente sua crise de segurança pública com planejamento sério, integração institucional e ações concretas em vez de medidas protelatórias e discursos polarizantes.