Uma ferramenta revolucionária na perícia criminal brasileira está transformando a forma como as polícias investigam crimes envolvendo armas de fogo em todo o país. O Sistema Nacional de Análise Balística, conhecido como Sinab, já auxiliou em aproximadamente 9.066 investigações através de sua tecnologia que funciona como um banco de dados do DNA das balas.
Como funciona o banco de DNA das balas
O sistema opera de maneira similar a um banco de dados genético, mas focado nas características únicas que cada arma imprime nos projéteis. Cada arma de fogo deixa marcas exclusivas nas balas que dispara, criando uma espécie de impressão digital que pode ser rastreada e comparada.
O processo começa quando peritos das polícias científicas coletam evidências na cena do crime, incluindo balas, cartuchos e armas apreendidas. Esse material é então registrado no Sinab, onde as marcas microscópicas são mapeadas e inseridas no sistema nacional.
Cada imperfeição no cano da arma, cada resíduo, cada pequeno detalhe de fabricação deixa uma marca única no projétil, explica a perita Telma Penazzi, diretora do Laboratório de Balística do Instituto de Criminalística de São Paulo.
Resultados impressionantes em pouco tempo
Desde sua implementação completa em 2023, o sistema já registrou mais de 102 mil inserções no Banco Nacional de Perfis Balísticos (BNPB). Esses dados resultaram em aproximadamente 7 mil conexões confirmadas entre crimes registrados em diferentes estados brasileiros.
O Sinab representa um avanço significativo em comparação com os métodos tradicionais de análise balística. Antes da implementação do sistema, os peritos precisavam comparar manualmente as evidências, um processo que podia levar dias ou semanas e muitas vezes não produzia resultados.
Era extremamente frustrante fazer exames repetidos com armas diferentes e obter apenas resultados negativos, relembra Rafael Silva, perito da Polícia Científica do Paraná que administra o Sinab no estado.
Investimento e estrutura nacional
O sistema conta com uma rede de 40 laboratórios de balística distribuídos por todo o país, com um investimento federal de aproximadamente R$ 124 milhões. O governo federal fornece os equipamentos de análise e banca a manutenção mensal, estimada em R$ 300 mil, enquanto os estados são responsáveis pelos profissionais e pelo restante da infraestrutura necessária.
O projeto foi autorizado em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro, e implementado gradualmente até atingir operação completa em 2023, já no governo Lula. Atualmente, todos os 26 estados e o Distrito Federal têm acesso à ferramenta.
Os acordos entre União e estados têm validade de cinco anos, com parte das parcerias previstas para encerramento em julho de 2026. No entanto, o Ministério da Justiça e Segurança Pública já afirmou que pretende renovar os convênios, considerando o projeto exitoso pelos resultados consistentes entregues à investigação criminal.
O Sinab não apenas agiliza as investigações, mas também cria um efeito dissuasor sobre criminosos, que agora sabem que é possível rastrear conexões entre armas que circulam pelo país, finaliza Telma Penazzi.