PF prende desembargador relator de caso TH Joias em operação Unha e Carne 2
Desembargador preso por vazamento de dados a TH Joias

A Polícia Federal (PF) cumpriu, na manhã desta terça-feira (16 de dezembro de 2025), um mandado de prisão preventiva contra o desembargador Macário Judice Neto. O magistrado atuava como relator do caso envolvendo o ex-deputado Thiego Raimundo dos Santos, conhecido como TH Joias, no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2).

Operação Unha e Carne 2 mira vazamento de informações

A prisão ocorreu no âmbito da Operação Unha e Carne 2, que dá continuidade às investigações sobre o vazamento de dados sigilosos. A ação anterior, que levou à prisão do então presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar, apurou que ele teria repassado informações privilegiadas da investigação para TH Joias.

Em nota, a PF explicou que a operação visa "investigar a atuação de agentes públicos no vazamento de informações sigilosas que culminou com a obstrução da investigação realizada no âmbito da Operação Zargun". Essa operação, deflagrada em setembro, foi a que prendeu inicialmente TH Joias, acusado de intermediar a venda de armas para a facção Comando Vermelho.

Contexto das investigações e mandados cumpridos

Além da prisão do desembargador, foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. A PF ressaltou que a ação se insere no contexto da decisão do STF na ADPF das Favelas, que determinou investigações sobre grupos criminosos violentos e suas conexões com agentes públicos.

Macário Judice Neto havia sido promovido a desembargador do TRF-2 em 2023, após um afastamento da magistratura que durou quase duas décadas. O afastamento ocorreu devido a denúncias do Ministério Público Federal (MPF), incluindo uma que apontava seu suposto envolvimento em um esquema de venda de sentenças.

Outro dado relevante é que a esposa do desembargador, Flávia Judice, trabalhou no gabinete da diretoria-geral da Alerj até a prisão de Rodrigo Bacellar, ocorrida no dia 3 de dezembro.

Relação entre Bacellar e TH Joias

As investigações revelaram comunicação direta entre Bacellar e TH Joias. Em interceptações da PF realizadas em 2 de setembro, véspera da prisão do ex-deputado, TH Joias ativou um novo número de celular e logo entrou em contato com Bacellar, a quem se referia pelo codinome "01".

De acordo com as escutas, Bacellar teria orientado TH Joias a remover objetos de sua residência para ocultar provas. Os dois voltaram a se falar na manhã da operação, pouco antes da decretação da prisão preventiva do acusado.

Após ser preso, Bacellar foi solto por decisão de parlamentares, mas está sob medidas restritivas. Ele usa tornozeleira eletrônica, teve o passaporte retido e a licença de porte de arma suspensa, além de estar proibido de contatar outros investigados. Ele também solicitou licença de 10 dias do mandato de deputado.

A prisão do desembargador Macário Judice Neto marca mais um capítulo no complexo quebra-cabeça que investiga a infiltração do crime organizado nas esferas do poder público no Rio de Janeiro, evidenciando supostas rotas de vazamento de informações que beneficiam uma das maiores facções criminosas do país.