Novo inquérito policial investiga morte de paciente após cirurgia plástica
A Polícia Civil de São Paulo acaba de abrir o terceiro inquérito para investigar o ex-cirurgião plástico Herbert Gauss Junior e sua esposa, a médica Maria Lucia Gauss. A decisão ocorreu duas semanas após a TV Globo exibir reportagem com relatos de mulheres que acusam o casal de negligência durante procedimentos realizados na clínica Doutor Plástica, localizada na Zona Sul da capital paulista.
Morte de paciente levanta suspeitas
O novo inquérito foi instaurado no 36º Distrito Policial (Paraíso) e tem como foco principal investigar a morte de Larissa Cristina da Silva. A jovem de 28 anos sofreu uma parada cardíaca após passar por uma cirurgia para remover gordura abdominal em janeiro deste ano.
Segundo informações da família, Larissa havia fechado o procedimento com Herbert Gauss Junior ainda em 2024. No entanto, um dado crucial veio à tona: o registro profissional do médico havia sido cassado em novembro do ano anterior. A família afirma que a cirurgia acabou sendo realizada, sem qualquer aviso prévio, pela esposa dele, Maria Lucia Gauss.
"Quando ela acordou, me falou: 'Estou bem. Só achei meio estranho porque foi a doutora esposa do médico que fez a minha cirurgia'", relatou Laura Gabriele Santana, irmã da paciente falecida.
Múltiplas frentes de investigação
Além deste novo inquérito, a polícia mantém outras duas frentes de apuração ativas. A primeira investiga especificamente a morte de Larissa, enquanto a segunda, na Delegacia dos Jardins, apura casos de lesão corporal envolvendo outras pacientes atendidas pelo casal.
Existe ainda um terceiro inquérito, mais antigo, que foi instaurado a pedido do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) em outubro do ano passado. Este processo trata especificamente do exercício ilegal da medicina.
Nem todas as vítimas procuraram formalmente a polícia. Muitas delas estão tentando reaver o dinheiro pago por cirurgias malsucedidas e buscam outros profissionais para realizar procedimentos de reparação.
Vítimas relatam prejuízos físicos e emocionais
O advogado Lucas de Lucia, especialista em Direito do Consumidor, explica que as pacientes têm direito a buscar ressarcimento financeiro. "Quem presta um serviço e causa prejuízo a outro tem o dever de reparar. No caso dessas vítimas, são prejuízos materiais, morais e também estéticos", afirma o especialista.
Entre as mulheres que relatam danos está Miriam Pereira da Silva, empregada doméstica e mãe de quatro filhos. Ela pagou R$ 12 mil por duas cirurgias - uma prótese de silicone e uma correção abdominal. O resultado ficou muito abaixo do prometido.
"Ela até comentou: 'Você quer fazer outra lipo?' Eu falei: 'Não. Não faço mais nada com vocês. Não vou arriscar minha vida de novo'", contou Miriam. A paciente pediu o reembolso total, mas afirma que os médicos ofereceram devolver apenas R$ 5 mil, proposta que ela recusou.
Miriam também revelou que buscou a clínica por indicação e que realizar as cirurgias era um sonho. "Fui em outra clínica, mas era muito caro. Eu odiei meu umbigo do jeito que ficou", desabafou.
Clínica é fechada
Na semana passada, Miriam recebeu pelas redes sociais um comunicado informando que a clínica Doutor Plástica havia fechado as portas. O documento não foi assinado por nenhum responsável.
"Eu tenho vergonha de mostrar minha barriga. Mas pra vocês, não. Porque eu quero que ele pague pelo que fez com todas essas mulheres", declarou Miriam, demonstrando a dimensão dos danos emocionais sofridos.
O g1 tentou contato com Herbert Gauss Junior, Maria Lucia Gauss e representantes da clínica para comentar o novo inquérito, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.