O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) moveu uma ação civil pública contra a companhia aérea Gol no Tribunal de Justiça de São Paulo. A acusação é a prática de greenwashing, termo que descreve quando uma empresa divulga uma imagem ambientalmente responsável que não condiz com suas ações reais.
O programa "Meu Voo Compensa" em questão
Desde junho de 2021, a Gol promovia a campanha "Meu Voo Compensa". A iniciativa permitia que passageiros pagassem uma taxa extra para supostamente neutralizar as emissões de poluentes de seus voos. A compensação seria feita por meio da compra de créditos de carbono.
No entanto, o Idec alega que o programa não era eficaz. A entidade sustenta que a Gol não fornecia dados transparentes e verificáveis sobre como calculava as emissões, a origem dos créditos de carbono e quais programas ambientais eram beneficiados.
Tokens digitais no lugar de créditos reais
Segundo a ação, a Gol não utilizava créditos de carbono reais e certificados. Em vez disso, o programa operava com "ativos digitais" (tokens) fornecidos pela corretora Moss. Esses tokens funcionavam como uma espécie de moeda digital criada pela própria Moss, sem equivalência comprovada com créditos ambientais de fato.
A principal certificadora global de créditos de carbono, a Verra, já alerta desde 2021 que não administra, endossa ou reconhece tokens criados por terceiros que alegam representar créditos de carbono. Em nota pública, a Verra afirmou que "qualquer pessoa ou empresa que negocie esses tokens faz isso por sua própria conta e risco".
A situação se complica ainda mais porque a Moss já teve negócios com um dos principais alvos de uma operação da Polícia Federal. A investigação apura uma organização criminosa suspeita de vender ilegalmente créditos de carbono de áreas da União.
Resposta da Gol e desaparecimento do programa
Em nota ao g1, a Gol afirmou que suspendeu a parceria com a Moss e as vendas do programa "Meu Voo Compensa" assim que tomou conhecimento das investigações. A empresa se disse reconhecida pela integridade e transparência e afirmou nunca ter incentivado ações contra práticas legais de desenvolvimento sustentável.
A companhia se comprometeu a sanar todas as questões levantadas pelo Idec. Nos relatórios de sustentabilidade de 2023, o programa ainda era destacado, com a informação de que, entre junho de 2021 e dezembro de 2022, clientes teriam compensado 13,1 mil toneladas de CO2. No entanto, no relatório de 2024, divulgado em agosto de 2025, o programa não é mais citado em nenhuma das 48 páginas, sem qualquer esclarecimento sobre sua interrupção.
A ação do Idec pede a condenação da Gol pela prática de greenwashing e uma indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 5 milhões. O caso coloca em evidência a necessidade de transparência e regulação no mercado voluntário de carbono, especialmente com o surgimento de ativos digitais ligados a créditos ambientais.