Exumação internacional para desvendar crimes de irmãs gêmeas
A Justiça de Guarulhos, na Grande São Paulo, determinou a exumação do corpo de Hayder Mhazres, vítima tunisiana que faleceu em maio de 2025. A medida extraordinária acontecerá na Tunísia, país de origem da vítima, e integra as investigações sobre as irmãs gêmeas Ana Paula e Roberta Cristina Veloso Fernandes, acusadas de cometer quatro homicídios por envenenamento.
Justificativa legal e desafios forenses
Em despacho publicado no Diário de Justiça Eletrônico Nacional, a Vara do Júri de Guarulhos classificou a exumação como "imperiosa", considerando as circunstâncias que indicam morte por envenenamento. A decisão judicial explica que, embora os laudos preliminares de toxicologia não tenham detectado substâncias tóxicas no sangue analisado, este material não é o ideal para identificar certos tipos de veneno.
Segundo especialistas forenses, compostos tóxicos de metabolização rápida ou natureza lipossolúvel tendem a se concentrar preferencialmente em tecidos sólidos, vísceras e conteúdo gástrico, daí a necessidade de nova análise com amostras diferentes.
Cooperação internacional e superação de obstáculos culturais
A operação de exumação será realizada através de cooperação internacional, envolvendo o Ministério das Relações Exteriores, a Embaixada do Brasil na Tunísia, a Interpol-Polícia Federal e autoridades tunisianas. Ainda não há data definida para o procedimento.
Um dos desafios enfrentados foi a relutância inicial dos familiares de Mhazres, que por questões religiosas não queriam permitir a remoção do corpo. No entanto, todos acabaram assinando um termo concordando com a medida, reconhecendo sua importância para a investigação criminal.
Defesas contestam acusações
As irmãs gêmeas apresentaram respostas à acusação através de seus advogados. A defesa de Ana Paula argumenta que a denúncia se baseia em "indícios parciais e alegações imprecisas", sem a robustez necessária para sustentar a ação penal. Alega ainda "excesso acusatório" na cumulação de qualificadoras e requereu que o caso não seja encaminhado para Júri Popular.
Já a defesa de Roberta Cristina requereu preliminarmente a revogação da prisão preventiva e, no mérito, postulou absolvição sumária pela "inexistência de indícios mínimos de autoria". Seus advogados afirmam que a acusação se baseia em "suposições anêmicas" e conversas telefônicas como prova de participação dolosa.
Sequência dos crimes atribuídos às irmãs
Os autos do processo detalham uma sequência de crimes atribuídos às gêmeas:
- Marcelo Hari Fonseca - janeiro de 2025, Guarulhos-SP
- Maria Aparecida Rodrigues - abril de 2025, Guarulhos-SP
- Neil Correa da Silva - 26 de abril de 2025, Duque de Caxias-RJ
- Hayder Mhazres - maio de 2025, São Paulo-SP
Todos os casos teriam envolvido envenenamento como método, com as irmãs supostamente agindo com "motivação torpe" e usando "recurso que dificultou a defesa das vítimas".
Próximos passos processuais
Apesar das teses defensivas, a Vara do Júri de Guarulhos entende que existem "indícios suficientes de autoria em relação a ambas as rés e materialidade" para prosseguir com o processo. O despacho judicial afirma que não se vislumbra, por ora, nenhuma excludente de ilicitude, culpabilidade ou punibilidade.
As audiências de instrução, debates e julgamento já foram marcadas para os dias 6, 7 e 8 de abril de 2026, quando as dinâmicas dos fatos deverão ser melhor apuradas. As demais questões levantadas pelas defesas serão enfrentadas no momento processual oportuno, segundo a Justiça.