A advogada e ativista salvadorenha Ruth López completa seis meses de detenção em condições que alarmam organizações internacionais de direitos humanos. Presa desde 18 de maio de 2025, ela está incomunicável desde julho, sem qualquer tipo de visita permitida - nem mesmo de seus próprios advogados.
Detenção polêmica e mudança de acusações
Ruth López foi detida inicialmente por peculato - apropriação indevida de fundos estatais - mas a Procuradoria-Geral da República (PGR) salvadorenha alterou posteriormente a acusação para enriquecimento ilícito. Seu marido, Louis Benavides, descreve as circunstâncias da prisão como "incomuns" e as acusações como "totalmente falsas".
O processo judicial foi colocado em sigilo a pedido da PGR, chefiada por Rodolfo Delgado, considerado próximo ao presidente Nayib Bukele. Esta medida impede que os advogados de defesa tenham acesso livre aos autos, dificultando significativamente a preparação da defesa.
Reconhecimento internacional e trabalho anticorrupção
Ruth López era chefe da Unidade Anticorrupção e de Justiça da organização de direitos humanos Cristosal, onde liderou investigações sobre o governo Bukele. Seu trabalho ganhou reconhecimento internacional quando a BBC a incluiu na lista das 100 mulheres mais influentes do mundo em 2024.
Em novembro de 2025, Louis Benavides esteve em Londres para receber, em nome da esposa, o Prêmio Magnitsky 2025, concedido por seu trabalho em defesa das vítimas da injustiça e luta contra a corrupção.
Condições de detenção preocupantes
Desde 4 de julho, quando foi transferida para a Fazenda Penitenciária de Izalco, Ruth López está totalmente incomunicável. Nem familiares nem advogados têm permissão para visitá-la, situação denunciada por diferentes organismos internacionais.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos estabeleceu medidas cautelares em setembro, reconhecendo "a situação de gravidade e urgência" em que a ativista se encontra. No entanto, segundo Benavides, "até o momento, não recebemos resposta positiva" do governo salvadorenho sobre o cumprimento dessas medidas.
Impacto no ativismo salvadorenho
Benavides relata que após a detenção de Ruth López e do advogado Enrique Anaya Barraza, ocorrida uma semana depois, houve uma grande deserção de jornalistas e ativistas que se exilaram imediatamente por medo.
Ele critica o regime de exceção vigente em El Salvador desde março de 2022, prorrogado 44 vezes - prática que considera inconstitucional, já que a Constituição só permite sua extensão por uma vez após os 30 dias iniciais.
A família e a organização Cristosal continuam pressionando por um julgamento justo e público, como pediu a própria Ruth López durante sua audiência inicial em 4 de junho: "Não irão me calar, quero um julgamento público! Que me concedam um julgamento público, as pessoas merecem saber. Quem nada deve, nada teme."