A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) emitiu uma nota oficial repudiando as falas e a conduta do apresentador Luciano Huck, registradas nos bastidores de uma visita dele ao Parque Indígena do Xingu, em agosto. As imagens, que circularam nas redes sociais há três dias, mostram Huck dando orientações sobre as gravações do seu programa.
O que aconteceu nos bastidores da gravação
Luciano Huck estava no Xingu para registrar cenas do cotidiano e rituais indígenas para seu programa na TV Globo. Em um momento nos bastidores, o apresentador orientou uma liderança indígena sobre a imagem que o povo deveria passar aos telespectadores. Ele pediu que ninguém aparecesse com celular na mão e também que evitassem o uso de roupas "comuns" durante as filmagens.
"Limpa a cultura de vocês aí", disse Huck, que na ocasião estava sentado ao lado da cantora Anitta – momento em que ela pareceu ficar visivelmente constrangida. O apresentador argumentou que "quanto mais celulares aparecem, menos é a cultura de vocês". Ele complementou: "Quando aparece vocês de celular, acho que mexe na cultura original. Quando tiver gravando, se puder 'segurar' o celular... Se puder falar isso para o povo é bom".
Nota de repúdio da Apib e defesa do acesso à tecnologia
Em resposta, a Apib manifestou "profunda indignação" com a fala de Huck. A entidade destacou que a sugestão de que o uso do celular "sujaria" a cultura indígena é inaceitável. "Possuir um celular não torna um parente menos indígena. Nossa identidade não se mede por objetos, mas por ancestralidade, território, memória e luta", afirmaram.
A articulação foi enfática ao defender que o acesso à tecnologia é um direito de todos os brasileiros e que, para os povos originários, tem sido uma ferramenta essencial em múltiplas frentes:
- Na defesa dos territórios;
- No monitoramento ambiental;
- No acesso à educação e ao trabalho;
- Na comunicação entre comunidades e o Estado;
- Na denúncia de violações de direitos.
A resposta de Luciano Huck
No dia seguinte à viralização do vídeo, Luciano Huck se pronunciou. Ele afirmou que o pedido foi apenas uma decisão da direção de arte do programa, "nada além disso", e reafirmou ser um defensor dos povos originários.
Em nota, o apresentador disse: "Minha relação com as comunidades indígenas no Brasil atravessa décadas. Sou, e sempre serei, defensor dos povos originários, de sua cultura, de sua territorialidade e de sua preservação". Ele ainda acrescentou: "Sempre defendi que as escolhas sobre modos de vida, tradições e caminhos futuros pertencem única e exclusivamente aos próprios povos indígenas". Sobre o episódio, Huck reiterou que se tratou de um "ajuste pontual" em um set de filmagem, sem a intenção de impor limitações culturais.
O caso reacende o debate sobre representação, autonomia e o direito dos povos indígenas de utilizarem ferramentas modernas sem que isso seja visto como uma perda ou adulteração de sua identidade cultural.
