O senador Renan Calheiros (MDB-AL) lançou duras críticas contra o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), ao qualificá-lo como o 'ideólogo do orçamento secreto'. As declarações foram feitas durante entrevista ao programa Ponto de Vista, da revista VEJA, nesta segunda-feira, 16 de dezembro de 2025, e coincidem com o avanço das investigações da Polícia Federal sobre o uso de emendas parlamentares.
Um modelo que transformou o orçamento em poder pessoal
Renan Calheiros afirmou que o modelo de emendas que se consolidou nos últimos anos transformou parte significativa do Orçamento da União em um instrumento de poder pessoal e político. Segundo o parlamentar, isso teve graves efeitos sobre a transparência e o controle dos gastos públicos.
O senador acusou Arthur Lira de ter concentrado recursos de forma desproporcional, utilizando o mecanismo das emendas para construir uma extensa rede de influência. Renan foi enfático ao descrever essa estrutura: 'Operava quase como um banco particular', disse, destacando o caráter personalista do esquema.
Casos concretos e a 'crença na impunidade'
Para embasar suas acusações, Renan citou exemplos específicos. Um deles foi o orçamento destinado à robótica educacional, no qual, segundo o senador, 87% dos recursos foram enviados para o estado de Alagoas, base política de Arthur Lira. Esse episódio, conforme mencionado, acabou sendo anulado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
'Ele acredita na impunidade porque tudo o que fez acabou não tendo consequência', disparou Renan Calheiros, conectando a suposta blindagem política à sensação de que alguns agentes públicos estariam acima da lei.
Rastro de desperdício e blindagem política
O parlamentar do MDB afirmou que o esquemo de emendas, embora tenha raízes anteriores, foi 'potencializado' durante o governo Bolsonaro, com o aval político da Câmara presidida por Lira. O resultado, na visão de Renan, é um rastro de desperdício e suspeitas de corrupção que se espalhou por todo o país.
'São mais de R$ 50 bilhões gastos com obras fantasmas, que começam, consomem dinheiro público e nunca terminam', denunciou. Ele completou citando municípios onde sequer existem placas identificando as supostas obras, evidenciando a falta de fiscalização e transparência.
Renan também atacou o que chamou de blindagem política promovida pela Câmara sob a liderança de Lira. De acordo com ele, decisões internas da Casa protegeram parlamentares investigados e criaram obstáculos para o avanço de apurações, reforçando a cultura da impunidade.
Poder em Brasília não se converte em voto em Alagoas
Ao analisar o cenário político em Alagoas, Renan Calheiros projetou um novo embate regional nos próximos anos. Ele argumentou que, apesar do enorme poder institucional acumulado por Arthur Lira em Brasília, o ex-presidente da Câmara enfrenta dificuldades eleitorais no estado.
'O poder institucional não se converte automaticamente em voto', observou o senador, lembrando derrotas recentes de Lira em disputas majoritárias e limitações no apoio popular direto.
A necessidade de investigações e responsabilização
Para Renan Calheiros, o aprofundamento das investigações em curso é fundamental para reverter um modelo que, em suas palavras, 'tomou de assalto o orçamento da União'. Ele defendeu punições exemplares para todos os envolvidos em desvios de recursos públicos, especialmente em um momento de restrição fiscal.
'O Brasil não pode naturalizar esse tipo de prática', afirmou, concluindo com um recado direto: 'Quem transformou o dinheiro público em instrumento de dominação política precisa responder por isso.'
Procurado para se manifestar sobre as acusações, o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira, ainda não se pronunciou publicamente.