STF autoriza buscas contra deputado Antônio Doido na Operação Igapó
PF faz buscas em apartamento de deputado Antônio Doido

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, autorizou nesta terça-feira, 16 de dezembro de 2025, que a Polícia Federal realizasse buscas no apartamento do deputado federal Antônio Doido (MDB-PA). A ação faz parte da Operação Igapó, que investiga uma organização criminosa suspeita de desviar cerca de R$ 48 milhões em espécie de agências bancárias no estado do Pará.

Celular jogado pela janela e esquema de lavagem

Durante a diligência, realizada nas primeiras horas da manhã na região central de Brasília, os policiais federais encontraram um celular na área externa do prédio onde o parlamentar reside. De acordo com testemunhas ouvidas pelos agentes, o aparelho teria sido jogado pela janela momentos antes.

As investigações apontam que Antônio Doido é investigado por desvio de verbas públicas por meio de um complexo esquema que envolveria diversas empresas de fachada, especialmente no setor da construção civil. Segundo a PF, essas empresas seriam todas comandadas pela esposa do deputado, Andrea Costa Dantas.

Um relatório parcial da PF, que teve seu sigilo quebrado por determinação do ministro Dino, detalha que o esquema de lavagem de dinheiro teria como origem recursos de contratos públicos. O dinheiro desviado, segundo as investigações, seria utilizado para fins eleitorais escusos e para a aquisição de patrimônio.

Base das investigações e papel de policial militar

O ponto de partida para as investigações foi o material apreendido no telefone de Francisco Galhardo, um policial militar aposentado. A PF aponta que Galhardo atuava sob as ordens do deputado Antônio Doido e era o responsável por efetuar os saques, que ocorrem desde pelo menos 2023.

O relatório da PF afirma que Francisco Galhardo utilizava o aparato estatal, mais especificamente um grupo de policiais militares, para movimentar grandes quantias em dinheiro vivo. Essa operação estaria sob a égide do próprio deputado. Galhardo foi preso em flagrante em outubro de 2024, dentro de uma agência bancária em Castanhal (PA), portando R$ 4,6 milhões em espécie.

Os investigadores também observaram que Antônio Doido utilizava a configuração de mensagens temporárias do WhatsApp, o que dificultou o acesso ao histórico completo. No celular de Galhardo, foram encontrados apenas registros de mensagens do dia 4 de outubro de 2024.

Alvos, bloqueios e decisões do ministro

Além do deputado, também foi alvo de buscas nesta terça-feira o secretário de Obras Públicas do Pará, Ruy Cabral. O ministro Flávio Dino determinou a apreensão de aparelhos eletrônicos e a quebra do sigilo telefônico de 13 pessoas físicas e 10 pessoas jurídicas, incluindo equipamentos da própria Secretaria de Obras Públicas do estado.

Dino também autorizou o bloqueio de R$ 17 milhões que eventualmente sejam encontrados em contas bancárias ligadas aos investigados e às empresas envolvidas.

Em seu despacho, o ministro negou um pedido da PF para realizar buscas no gabinete do deputado na Câmara dos Deputados. A justificativa foi que o foco das investigações são fatos ocorridos no Pará, e não foi demonstrada a utilidade específica dessa diligência no gabinete para o avanço do caso.

A Procuradoria-Geral da República (PGR), em parecer favorável às diligências, destacou que os indícios apontam para uma possível instrumentalização da estrutura policial em benefício de candidaturas políticas. A PF sustenta que os desvios continuam, com centenas de milhões de reais em verbas públicas ainda sendo pagos às empresas ligadas ao grupo investigado.